Muito pior do que a agressão a um
profissional, como foi o caso recente da professora atingida por um soco pelo
seu aluno, são os comentários e reflexões postadas nas redes sociais por
lideranças religiosas, políticos de mandatos e por sua cáfila de seguidores.
Como entender o argumento de um indivíduo que fala abertamente que as opções políticas
de uma professora, mesmo as equivocadas de acordo com os princípios de quem
critica, são igualmente medidas pela mesma régua, ou seja, riu e apoiou a
“ovada” em político? Agora agüenta calada...
Se não fosse trágico, seria
cômico um pastor defender que os seguidores ou estudiosos de Paulo Freire são
igualmente merecedores desse tipo de iniciativa pois, segundo sua rasteira e
pífia interpretação do que não leu e muito menos conhece, seria Freire o
responsável pela retirada da autoridade do professor ao qualificar os alunos,
como o agressor em questão, como um bando de coitadinhos.
Como um estudioso e prático do
assunto, tenho o pleno direito de discordar de Freire em alguns pontos,
concordar em muitos outros, mas nunca o vi dizendo que os papéis de professor e
alunos se misturam ao ponto do profissional perder sua posição no processo de
ensino-aprendizagem. Tampouco o vi usar o termo “oprimido” como escudo aos
violentos e transgressores, mas como a percepção lúcida de quem sofre com uma
educação de qualidade limítrofe, de empregos de baixo ganho e muita exploração,
de uma vida pouco além do que seria necessário para não ser indigente.
Não lembro igualmente de ver
Paulo Freire usar o nome de Deus para curas falsas, mesmo para os males do
analfabetismo e da ignorância... Não o vi tomar o dinheiro do mais pobre, desse
tal oprimido, prometendo a ele o milagre de uma prosperidade material. Não o vi
enriquecer assim para servir de exemplo de como Deus é bom com uns a custa da
manipulação de muitos.
O que essas pessoas desejam
quando falam de “autoridade do professor”? Como são absolutamente leigos e
rasos no assunto, advogam uma escola na qual a violência seja a pedra de toque
de uma obediência cega, absoluta, marcial. Que o professor tenha a licença para
usar de todos os meios, inclusive o físico, para seviciar e docilizar os corpos
dos seus alunos. Faltou apenas aparecer a hashtag “#VoltaPalmatória”. São os
mesmos que falam aos ventos que a escola pública é doutrinadora de esquerda. Se
houvesse tanta doutrinação como dizem, o país já seria comunista há décadas. E
não vale dizer que só não viramos porque eles, os verdadeiros patriotas,
soldados do Deus verdadeiro, não deixaram isso acontecer.
A violência nas escolas não é um
problema causado pela esquerda. Não é causado por professores de esquerda. Não
é culpa de Paulo Freire, de Marx, Engels ou do PT. É um produto cruzado da
sociedade que somos, com muitas e complexas causas. Mas como entender isso quando se diz que, se
é de esquerda tudo bem, pode apanhar ou aluno bom é aluno morto?
Paulo Freire ainda faz falta.