Enganou-se quem acreditou que o
Brasil foi passado a limpo com as recentes operações e investigações. Ao
contrário dos pessimistas, penso que uma coisa positiva prosperou: Colocou em
letras mais nítidas ao mais simples dos cidadãos como funcionam e se articulam
os três poderes para o exercício da corrupção institucionalizada.
É cristalina a convicção de que
as engrenagens que movem a estrutura da corrupção institucionalizada envolvem
mandatários do Executivo, parlamentares, juízes e magistrados de todas as
togas. É a chamada Alta Roda. Daí para baixo, os nichos de poder se dissipam de
modo a agregar uma fração de mando por meio de indicações, controle de verbas
ou mesmo pelo controle de partidos e eleitos mais localizados, como nas
municipalidades. No estômago dessa víbora, lentamente, são digeridos os
ilícitos municipais, estaduais e federais, indistintamente, como parte do mesmo
processo gástrico que a tudo une como alimento indiviso.
As manobras feitas a todo custo e
com elevadíssimo preço para a sociedade para salvar o pescoço da Alta Roda,
foram os ingredientes que faltavam para disseminar na população dois
sentimentos perigosos, a descrença e a radicalização da ignorância.
O primeiro é a zona de lamento
que nos leva ao estado de negação. Generalizamos o tudo na conta do nada presta
e, com isso, ou deixamos de participar ativamente da vida pública ou arrumamos
um modo de fazer parte do jogo, mesmo à boca miúda. A segunda, a radicalização
da ignorância, é também velha conhecida da história. Está por detrás de todos os
movimentos fascistas e arbitrários. A ignorância também generaliza o problema,
mas constrói inimigos úteis a quem os instrumentos do ódio, da violência e da
supressão de direitos fundamentais passam a ser o remédio tão amargo quanto
fictício de todos os seus malefícios.
Nessa perspectiva, os culpados
pelos pecados que afligem a república corrupta são os pobres, os favelados, os
negros, os homossexuais, os indígenas, os alunos das escolas públicas, as
camadas mais massacradas das classes trabalhadoras.
Quando se institui a descrença,
abrem-se as portas para a ignorância radical. E suas raízes estão cada vez mais
longas e capilarizadas, crescendo no mesmo ritmo das redes sociais e demais
mídias de grande alcance. E ela funciona pois é fácil demais de compreender. O
ódio é o sentimento mais simples que existe. Não precisa fazer sentido.
Aponta-se para o objeto que no momento se deseja atingir e vai vivendo de alvos
a cada nova produção de destroços sociais.
E no cenário que temos, com as
decadentes e viciosas instituições nas mãos dos manobristas das safadezas, é de
se esperar pelo pior. Já existem líderes, seguidores e motivos. E a fagulha não
vai tardar em ser acesa.
2 comentários:
Parabéns pela matéria Professor Cotias, estamos a beira de um colapso...
Mas ainda nos resta a esperança na mudança da consciência de um povo sofrido, nós brasileiros!
Um abraço!
Muita lucidez nas observações. Nosso clima político lembra Weimar. ... Já temos um Bolsonaro. ....kkkk
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