domingo, 20 de agosto de 2017

O Despertar da Ignorância (Publicado no jornal Folha dos Lagos de 19/8)



Enganou-se quem acreditou que o Brasil foi passado a limpo com as recentes operações e investigações. Ao contrário dos pessimistas, penso que uma coisa positiva prosperou: Colocou em letras mais nítidas ao mais simples dos cidadãos como funcionam e se articulam os três poderes para o exercício da corrupção institucionalizada.

É cristalina a convicção de que as engrenagens que movem a estrutura da corrupção institucionalizada envolvem mandatários do Executivo, parlamentares, juízes e magistrados de todas as togas. É a chamada Alta Roda. Daí para baixo, os nichos de poder se dissipam de modo a agregar uma fração de mando por meio de indicações, controle de verbas ou mesmo pelo controle de partidos e eleitos mais localizados, como nas municipalidades. No estômago dessa víbora, lentamente, são digeridos os ilícitos municipais, estaduais e federais, indistintamente, como parte do mesmo processo gástrico que a tudo une como alimento indiviso.

As manobras feitas a todo custo e com elevadíssimo preço para a sociedade para salvar o pescoço da Alta Roda, foram os ingredientes que faltavam para disseminar na população dois sentimentos perigosos, a descrença e a radicalização da ignorância.

O primeiro é a zona de lamento que nos leva ao estado de negação. Generalizamos o tudo na conta do nada presta e, com isso, ou deixamos de participar ativamente da vida pública ou arrumamos um modo de fazer parte do jogo, mesmo à boca miúda. A segunda, a radicalização da ignorância, é também velha conhecida da história. Está por detrás de todos os movimentos fascistas e arbitrários. A ignorância também generaliza o problema, mas constrói inimigos úteis a quem os instrumentos do ódio, da violência e da supressão de direitos fundamentais passam a ser o remédio tão amargo quanto fictício de todos os seus malefícios.  

Nessa perspectiva, os culpados pelos pecados que afligem a república corrupta são os pobres, os favelados, os negros, os homossexuais, os indígenas, os alunos das escolas públicas, as camadas mais massacradas das classes trabalhadoras.

Quando se institui a descrença, abrem-se as portas para a ignorância radical. E suas raízes estão cada vez mais longas e capilarizadas, crescendo no mesmo ritmo das redes sociais e demais mídias de grande alcance. E ela funciona pois é fácil demais de compreender. O ódio é o sentimento mais simples que existe. Não precisa fazer sentido. Aponta-se para o objeto que no momento se deseja atingir e vai vivendo de alvos a cada nova produção de destroços sociais.


E no cenário que temos, com as decadentes e viciosas instituições nas mãos dos manobristas das safadezas, é de se esperar pelo pior. Já existem líderes, seguidores e motivos. E a fagulha não vai tardar em ser acesa.

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela matéria Professor Cotias, estamos a beira de um colapso...
Mas ainda nos resta a esperança na mudança da consciência de um povo sofrido, nós brasileiros!
Um abraço!

PROF ANDERSON PEÇANHA disse...

Muita lucidez nas observações. Nosso clima político lembra Weimar. ... Já temos um Bolsonaro. ....kkkk

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