domingo, 15 de outubro de 2017 0 comentários

Salvem a Educação Brasileira (artigo publicado na Folha dos Lagos de 14/15 de outubro)


Antes que seja tarde demais. A contar da publicação desta coluna estima-se que levaremos no mínimo dez anos para, caso realmente a educação se torne uma prioridade, alcançarmos os primeiros degraus dos países mais avançados. Os exemplos são muitos. Há quatro décadas éramos proporcionalmente mais ricos que a Coréia do Sul. Tempos mais tarde a visão coreana priorizando os investimentos na educação inverteu, com bastante folga, essas posições.

Os problemas brasileiros são bem conhecidos, ainda que mal estudados. O mais crítico deles esta na esfera das relações políticas. A começar pela excessiva centralização imposta pelo MEC, transformando-o numa dispendiosa estrutura de controle. Criado sob a concepção varguista de um estado forte e educador do povo, permanece com essa herança de longa duração, impedindo o protagonismo dos estados e a adequação mais efetiva às múltiplas realidades do nosso país continental. Mas a solução seria empoderar as secretarias estaduais e municipais? Não é tão simples assim. Conhecidas de longa data como correias de transmissão das práticas políticas/eleitorais, as secretarias sofrem com a contaminação dos projetos de poder. A competência e a experiência ficam quase sempre em segundo plano e isso se aplica aos professores nomeados para essas tarefas. Afinal, temos muitos professores ruins e que, por trocados e pela ilusão vaidosa do poder, se prestam a qualquer serviço.

Além desses fatores, nos baseamos mais em estatísticas do que em conhecimentos produzidos. O Brasil é campeão nisso. Em educação já temos estatísticas das estatísticas e elas bastam, sob o argumento de que os números “falam por si”. Há truísmos como o do investimento de X por cento em educação. Nada garante que separar 10, 20, 50 ou 70% da arrecadação para a educação vá gerar melhorias. Afinal, de nada adianta muito dinheiro mal gasto, ou desviado... Enquanto isso, nos pegamos em planos e mais planos generalistas que não se refletem seu âmago em três pontos de fundamental importância: efetividade/tempo, controle social e permanência, não sendo descartado a menor mudança eleitoral.

É claro que precisamos rever nosso modo de investir em educação. Hoje basicamente, dos níveis mais fundamentais ao superior, reduzimos o processo educacional ao mero pagamento de salários. E em muitos casos nem isso vem acontecendo e sem a menor preocupação por parte da classe política que aprendeu, faz tempo, a demonizar a luta do magistério jogando contra ele os pais dos alunos usuários da rede pública. Fala-se com tanto garbo do futuro das crianças, levando a  crer que fazer muito com poucos recursos, sem remuneração adequada ou mesmo sem remuneração nenhuma, é o dever de todo bom professor. Chamam isso de amor.

Para comemorar o dia dos professores precisamos levar a sério tanto o ofício quanto a educação em si, da formação à estrutura (menos de 1% das escolas brasileiras tem o mínimo necessário para colocá-las no século XXI), da finalidade aos frutos, das pesquisas ao desenvolvimento e deste para a formação de uma nova nação.


Basta querer. E para isso a primeira providência é banir a politicagem da educação, substituindo-a pela competência (2018 é a primeira chance de surrar nas urnas os politiqueiros da educação) e pelo espírito público (o lobby dos conglomerados privados em todos os níveis é absurdamente influente na política). A segunda é priorizá-la como alavanca de progresso humano e social. A terceira é fazermos isso juntos.

 
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