Calma que não é um problema de fé em plena Páscoa! (rs). O título, em verdade, não faz jus ao conteúdo do livro. Invocadores do Mal é mais uma obra para quem curte os casos desvendados pelo famoso casal Ed e Lorraine Warren. O diferencial está na narrativa que é escrita pelo casal, além de trazer informações acerca dos fenômenos e de casos não tão badalados pela mídia, como os famosos Annabelle e Amytiville. Vale a leitura.
O Beijo de Judas - Caravaggio 1602
Desde muito cedo aprendemos a desconsiderar a dor. Mais do que isso, aprendemos a combatê-la com todas as forças. As maravilhas da medicina nos afastam dela, com a promessa analgésica para os males do corpo e da mente. As maravilhas da tecnologia as relativizam, suavizam e o restante cabe às relações humanas mesmo, que é o que sobra: a banalização da dor.
Além de tornar a dor um sinônimo de fragilidade, tiramos dela a dimensão do drama. A dor é um espasmo acidental do nossa cotidiana fixação no prazer. Pensar nela já nos coloca na lista dos problemáticos, vivê-la, nunca mais nos tira dela. Como desaprendemos a compreender a dor perdemos também a lembrança do sabor que uma paixão possui.
É a dor como um bem.
Sim, pois uma paixão que não dói é um produto plástico, artificial, com corantes e conservantes. Para mim toda a paixão deve necessariamente doer. E isso passa longe de uma mutilação masoquista. Ao contrário, ela dói porque é o sentimento mais intenso que um ser humano pode experimentar. Entretanto, a condição dessa experimentação é o amor. Ninguém é capaz de viver a paixão, seja pelo que for, se não amar.
Esse é o bem amar.
Hoje para os cristãos de todas as nuances é um dia de paixão. A mais intensa de todos os tempos. Pelo seu tamanho é possível compreender um pouco do amor que a moveu. A paixão do Cristo é o extravasar irrefreável de uma avalanche de sentimentos: perdão, afeição, incompreensão, medo, resignação, resiliência, amor, amor e amor... Porém, ela, para ser paixão, doeu. Doeu fisicamente, moralmente, na alma. Doeu porque essa é a essência do nosso drama. A traição dói, a indiferença também, assim como a violência, a hipocrisia e a humilhação. Mas a nervura que a transmite é a certeza de que vale a pena vivê-la por uma razão maior.
Essa razão é o bem.
Nesse final de semana vamos ouvir de tudo. Dos votos dos desonestos a propaganda neurótica pelo chocolate antecipado. Só não esqueçamos de ouvir a dor. Essa dor que levou à cruz a incondicionalidade do amor. Ela é feita de gente e do que há de divino em cada ser humano, a sensibilidade com o sofrimento do outro, mas também com suas alegrias; solidariedade com suas perdas, mas também com suas conquistas; fraternidade com suas necessidades, mas generosidade com sua pequenez.
Essa dor faz bem.
Os intelectuais na política
ocupam prateleiras. Como um bom conjunto de louças na cristaleira, é sinal de
importância quando se pode exibi-los na sala e, eventualmente, deles se
utilizar em algumas ocasiões pontuais.
Esse é um sintoma de algo maior.
É histórico. Em primeiro lugar há uma espécie de fetiche do que se chama
intelectualidade. Desde os idos mais remotos da formação de nossa pátria mãe, a
cultura de produção de cérebros se dedicou com mais esmero às alegorias e
adereços do que propriamente a constituição de uma linguagem lógica que
possibilitasse a conversão do processo formativo com um diálogo social
amplamente produtivo. Daí o anverso da moeda no qual qualquer formado (em
especial o mais precariamente) se presume acima dos mortais.
Em segundo, mostra o fosso ainda
a ser aterrado entre os centros de produção de saberes científicos e
tecnológicos (tanto das ciências naturais quanto as humanas) e a efetiva
utilização de tudo isso em prol da inovação. Atualmente somos tão pobres em
termos de concepção de avanço, em especial no âmbito da gestão pública, que
transformamos “informatização” em sinal de modernidade, de novidade. Uma visão
no mínimo limítrofe.
O contrário também é temerário. O
rei-filósofo de Platão, em sua república ideal só nos reforçaria a noção,
comprovadamente equivocada, de que uma aristocracia de “sábios” é sinônimo de
progresso, honestidade e desenvolvimento.
Entretanto a realidade que temos
ainda está longe desse perigo. O meio político vinga-se dos intelectuais. Essa
vingança tem diferentes graus de sutileza. Da mais grave, onde se procura
explorar a necessidade de sobrevivência em troca de um estado permanente de
humilhação, a mais branda, o tal “efeito
cristaleira” de que falamos há pouco. As reações também são as mais diferentes.
Vão desde a degeneração do pensador em “agiota de opinião”, que joga com a
língua para com ela obter certa entrada e alguns benefícios, à conformidade com
as penumbras.
Temos exemplos recentes. A
descuidada declaração do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que a
nomeação do ministro da saúde planejada para ser ofertada a um notável da área
terminou na mais rasa e costumeira barganha partidária, mostra o timbre e as
notas da partitura política brasileira.
Em defesa, o meio político tenta
defender o indefensável, ao tentar dissociar as noções entre conhecimento e
competência. É incrível ouvir em pleno século vigente que para ocupar certas
posições não é necessário notório conhecimento e experiência. Basta “saber
fazer”, seja lá o que isso signifique. É claro que os critérios para isso são
os menos republicanos possíveis, mas isso é outra história.
Pelo menos essa visão é coerente
com o modo como o Estado concebe a educação do seu povo. Ou seja, para ocupar a
vaga do arranjo, o esforço certo não se faz com livros, pesquisas e estudos.
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