Os intelectuais na política
ocupam prateleiras. Como um bom conjunto de louças na cristaleira, é sinal de
importância quando se pode exibi-los na sala e, eventualmente, deles se
utilizar em algumas ocasiões pontuais.
Esse é um sintoma de algo maior.
É histórico. Em primeiro lugar há uma espécie de fetiche do que se chama
intelectualidade. Desde os idos mais remotos da formação de nossa pátria mãe, a
cultura de produção de cérebros se dedicou com mais esmero às alegorias e
adereços do que propriamente a constituição de uma linguagem lógica que
possibilitasse a conversão do processo formativo com um diálogo social
amplamente produtivo. Daí o anverso da moeda no qual qualquer formado (em
especial o mais precariamente) se presume acima dos mortais.
Em segundo, mostra o fosso ainda
a ser aterrado entre os centros de produção de saberes científicos e
tecnológicos (tanto das ciências naturais quanto as humanas) e a efetiva
utilização de tudo isso em prol da inovação. Atualmente somos tão pobres em
termos de concepção de avanço, em especial no âmbito da gestão pública, que
transformamos “informatização” em sinal de modernidade, de novidade. Uma visão
no mínimo limítrofe.
O contrário também é temerário. O
rei-filósofo de Platão, em sua república ideal só nos reforçaria a noção,
comprovadamente equivocada, de que uma aristocracia de “sábios” é sinônimo de
progresso, honestidade e desenvolvimento.
Entretanto a realidade que temos
ainda está longe desse perigo. O meio político vinga-se dos intelectuais. Essa
vingança tem diferentes graus de sutileza. Da mais grave, onde se procura
explorar a necessidade de sobrevivência em troca de um estado permanente de
humilhação, a mais branda, o tal “efeito
cristaleira” de que falamos há pouco. As reações também são as mais diferentes.
Vão desde a degeneração do pensador em “agiota de opinião”, que joga com a
língua para com ela obter certa entrada e alguns benefícios, à conformidade com
as penumbras.
Temos exemplos recentes. A
descuidada declaração do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que a
nomeação do ministro da saúde planejada para ser ofertada a um notável da área
terminou na mais rasa e costumeira barganha partidária, mostra o timbre e as
notas da partitura política brasileira.
Em defesa, o meio político tenta
defender o indefensável, ao tentar dissociar as noções entre conhecimento e
competência. É incrível ouvir em pleno século vigente que para ocupar certas
posições não é necessário notório conhecimento e experiência. Basta “saber
fazer”, seja lá o que isso signifique. É claro que os critérios para isso são
os menos republicanos possíveis, mas isso é outra história.
Pelo menos essa visão é coerente
com o modo como o Estado concebe a educação do seu povo. Ou seja, para ocupar a
vaga do arranjo, o esforço certo não se faz com livros, pesquisas e estudos.
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