Lula é o próximo presidente da
república. O ato final de Moro era esperado. Não havia como não condenar o
ex-presidente, pois a peça processual era teleológica, ou seja, desde o início
já se conhecia o fim. O problema eram os meios, o recheio do bolo. Não
conseguiu a robustez que impeça Lula de escapar, mais uma vez, ileso. Mesmo que
todo e qualquer cidadão minimamente informado saiba que Lula também está no
epicentro de toda a trama, o ex-presidente, cuidadoso, soube melhor do que os demais
conservar-se quase intocável.
Moro o tocou de resvalo, mas não
pensemos que vai além disso. Ao deitar a cabeça em descanso na Bíblia, ao fim
do seu trabalho de algoz, talvez antecipasse ou vislumbrasse o fim ou os
problemas que enfrentará na sua carreira de magistrado a partir do próximo ano
com a volta de Lula ao poder. Se for vingativo, não deixará passar em branco
todo o transtorno causado a si e aos seus. Se não for, ao menos não deixará
Moro em paz.
Não vejo outro cenário do que a
segunda instância inocentar o ex-presidente por falta de provas diretas,
concretas e materiais, algo que Moro não conseguiu produzir com todo seu
contorcionismo retórico e todo o conjunto de ilações que mais se ancoraram em
presunções do de que propriamente em provas. Desse modo, não podemos esperar
que uma segunda instância possa levar a sério uma decisão dessa natureza.
E com a absolvição, o tiro sai
definitivamente pela culatra, pois se hoje ele já é imbatível em qualquer
simulação, quando for inocentado, vai verdadeiramente incendiar o país com toda
a força do seu poderoso discurso e sua indiscutível habilidade política,
atacando as reformas, a pobreza, a estagnação, a perseguição dos seus
inquisidores e, não estranhem, atacando a corrupção.
Quem morre definitivamente nesse
cenário é o PSDB. Viveu um conto de fadas com Aécio. Viu a carruagem tornar-se
abóbora e pode piorar ainda mais com o progressivo esvaziamento de suas
lideranças no cenário nacional. Pelo mesmo caminho irão os que não conseguirem
dialogar com Lula e a conversa começa agora.
Assim, a Lava-Jato começa a ficar
muito estranha. Antes acreditava-se que se tratava de uma ação para livrar o
país da corrupção. Agora mais parece uma limpeza que é feita quando uma
quadrilha desanca a outra para ocupar ou reocupar o território dos ilícitos.
Seja como for, somente o Executivo e o Legislativo foram expostos e sangrados.
E a própria operação vem mostrando que mudança de verdade, só ocorrerá quando
chamarem o Judiciário às falas. Enquanto isso...