Por volta de 1830 a Inglaterra já fervilhava com os
desdobramentos da Revolução Industrial.
Se por um lado o país se desenvolvia economicamente de modo acelerado,
por outro ainda sofria com os desequilíbrios tanto inerentes ao novo sistema
político/econômico. O problema da representatividade era um deles. Os distritos
industriais mais desenvolvidos tinham uma representatividade parlamentar
inferior a de localidades com ínfima
população e baixa relevância econômica. O proletariado, nesse tempo, não podia
votar nem ser votado mas, como lhe interessava os possíveis benefícios de uma
representatividade indireta, alia-se à burguesia em prol da Reforma Política.
Com a vitória da proposta, foi abandonada pela mesma burguesia que apoiou. Aprendeu
a lição. Os pactos entre o capital e o trabalho são frágeis como cristais. A
conseqüência disso foi a criação do Movimento da Carta que, junto com os
sindicatos, percorreu o país pedindo direitos trabalhistas como a redução da
jornada de trabalho para 10 horas diárias e, entre outras demandas, o direito
de votar e ser votado. Para isso, era necessário que os representantes eleitos
pelo povo pudessem ter como se sustentar. Naquele momento a função parlamentar
não era remunerada, possibilitando apenas que os mais abastados, de fato,
controlem o poder.
Hoje ainda temos certas ilusões em nossa democracia. Trago à
luz pelo menos três. A primeira é a de que ser remunerado para o trabalho
político é algo errado. Não é. De fato, como na luta inglesa dos séculos
passados, é o que possibilita que as pessoas possam dedicar seu tempo tendo em
contrapartida como se manter já que suas atividades pessoais ou são impedidas
ou restringidas por questões legais ou de mesmo de tempo. Acreditar que a
política deveria ser gratuita é assumir implicitamente que só os mais ricos,
que são donos de seu tempo, podem ocupar funções públicas. O problema são os
excessos, as distorções e a mazela da corrupção. A segunda é a crença de que a
gestão pública deve ser entregue ao setor privado através de seus partidos e
representantes. A afirmação de que a gestão pública deveria ser como a de uma
empresa é algo que só pode ser dito por quem desconhece por completo a teoria e
a natureza prática da administração. É como voltar ao modelo parlamentar
burguês da aurora do capitalismo, ou seja, quem controla o capital passa a
gerir o Estado conforme os seus interesses imediatos. A relação dos empresários
com o Estado, no nosso país é um tanto estranha. O Estado é visto como madrasta,
como inimigo do crescimento. Entretanto, as renúncias e incentivos dados pela
“viúva” são maiores do que todo o orçamento deste ano das pastas da saúde e
educação. Nada mal.
O terceiro é a de todos os políticos são corruptos e a
política é algo detestável de modo geral. Essa crença é a mais perversa. Ela
afasta as pessoas qualificadas e mais capazes para contribuir para a gestão e
desenvolvimento da coisa pública. Investir com salários e carreiras atraentes
no setor, diminuindo o tamanho e o alcance da montagem paralela das estruturas
de governo pode ser uma saída interessante. Mas precisamos ainda dar nosso voto
de confiança. Não a anjos posto que não existem encarnados. Temos bons
políticos que estão na luta para que as boas práticas prevaleçam mas é preciso
atenção redobrada pois nessas horas surgem o moralismo fascista, vazio e
violento e a tecnocracia esnobe, fria, sociopática. E eles tem adeptos até
mesmo nas camadas que são seus alvos prioritários.
E, por fim, não deixarmos de votar. Nunca. É uma conquista
histórica, lenta e que tem as cores do sangue dos mais pobres.
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