Quando o assunto é educação
geralmente temos orgulho e surpresa em olhar para experiências bem sucedidas no
exterior. Depois de tempos de louvor ao modelo sul-coreano, a vedete do momento
torna-se a Finlândia. Não é para menos. O país nórdico encontra-se sempre nas
primeiras posições do Pisa, avaliação internacional que mede o nível
educacional de jovens de 15 anos nos países-membros da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando entrevistados,
professores, alunos e gestores são unânimes quanto a uma palavra: Valorização. Infelizmente
no Brasil a palavra valorização é desconhecida em seu sentido original.
Confundimos valorizar com gostar, respeitar, falar bem. Para os finlandeses
esse não é um sentido atribuído mas uma conseqüência do que, de fato, é
valorização.
Valorizar é agregar valores.
Parece óbvio mas é completamente diferente do que praticamos aqui. Podemos
elencar o receituário deles, falando sobre o fato de praticamente toda a
educação nacional ser pública e possuir padrões salariais altos para docentes,
estimulando a carreira. Podemos prosseguir mostrando que suas escolas são bem
equipadas, com horários compatíveis com a rotina cultural e biológica dos
jovens e com currículos atualizados e ensinados de modo inovador. Podemos ainda
insistir mostrando que seus gestores são pessoas que entendem, de fato, de
educação. E concluir com uma cultura nacional que valoriza a educação e a
escolaridade sob a forma de oferta de empregos bem pagos para quem se dedica a
vida escolar e acadêmica.
No Brasil achamos que copiar modelos é a chave do
sucesso. O problema é exatamente esse, o de reduzir uma experiência social
complexa, como a da Finlândia, para que se transforme em um “manual pedagógico”
a ser costurado como o monstro de Frankenstein em nossas partes decompostas. Lá
a educação não se tornou peça retórica para politicagem vazia, não se concebe
por doutrinação social em favor de ideologias particulares e nem como uma mera
pré-condição obrigatória perante a legislação. Lá há uma compreensão ampla,
holística da educação como princípio de toda a organização social, cultural e
econômica. A política, nesse sentido, cuida para que esses três pilares
permaneçam sólidos.
Enquanto por aqui convivermos com
a politicagem com a educação, transformando-a em mecanismo compensatório do
empreguismo simplório, da outorga a gestão das pastas educacionais a notórios
despreparados e do tratamento estrutural baseado na precariedade, no jeitinho,
no adaptado, não seremos Finlândia. Enquanto nos preocuparmos mais em gerar
pilhas e mais pilhas de documentos, diretrizes, resoluções, parâmetros,
portarias, marcos e todo um aparato monumental de instâncias e vigias, tudo
para conferir se a precariedade vai em boa ordem, não seremos Finlândia. Enquanto
nossos políticos e gestores de pasta
tratarem a questão salarial do docente como uma piada de mau gosto, enquanto
lançarem mão da prepotência, arrogância, ou mesmo da falsidade, fingindo
compreender e estar ao lado de quem, na verdade, combatem com todas as forças
para que seus privilégios pessoais permaneçam intocados, não seremos Finlândia.
Enquanto o mercado, a economia não valorizarem monetariamente o estudo,
estancando a exploração em nome do lucro, pagando cada vez menos aos mais
escolarizados, desencorajando carreiras, não sermos Finlândia.
Seremos nós. O Brasil orgulhoso
da sua educação pouca para muitos e seletiva, para poucos.
1 comentários:
Pensar a educação no Brasil , após algumas experiências no mundo corporativo e acadêmico, não á assunto somente para os pedagogos . Aliás , boa parte das teorias na educação são alienígenas , partindo de lugares de fala e temporalidades diferentes das nossas. Então, ao adotá-las , acabamos por vivermos em pequenas ilhas : As ilhas "piratas" do ensino público , as ilhas altamente politizadas mas pouco efetivas do ensino público superior e as ilhas "paradisíacas" do ensino privado ... Para que pode frequentá-las ... Desde a colônia , educação no Brasil nunca foi pauta de projeto de Estado. Sempre foi pauta política personal, projeto de poder ... Abraços
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