domingo, 15 de abril de 2018

Mudar para Permanecer (Artigo publicado no Jornal Folha dos Lagos de 14/4)


A política em nossas terras tem a peculiaridade de se modernizar de modo conservador. Dito em outras palavras, o que é inovador em nossas práticas tem apenas a forma, a aparência e o nome. No fundo, muda-se para conservar.

Um bom exemplo, para não dizer lição, pode ser aprendido dos nossos livros de história. Vivemos uma república que prometeu, na forma, ser a vanguarda transformadora de um império caduco, atrasado, com o ranço aristocrático dos “casacas”. Entretanto, deixando aqui as devidas ressalvas ao modelo de governança monárquico (o qual não tenho real apreço), podemos observar um fato curioso: Um imperador se aproximando de uma nova elite urbana e empreendedora, a abolição do trabalho escravo tendo em vista uma progressiva transformação das relações de produção, entre outros sonhos dourados que acalentavam um desejado Terceiro Reinado.

Mas aí veio a república, filha unigênita de uma quartelada do exército, misturada em menor parcela com as tintas quase inexpressivas dos ditos “pensadores” liberais. De liberal o movimento teve pouca coisa, de fato. Até porque não foi essa gente que pariu a criança nova da mudança, foram as camadas agrárias, escravistas, conservadoras, que sustentaram e, assim que puderam, tomaram o governo aos goles de café com leite, raivosas pelo abandono de Sua Majestade.

Ou seja, enquanto na Europa os movimentos republicanos vinham acompanhados do engajamento e participação popular e de uma efetiva transposição de poder e de concepção de Estado e de governo, nas Américas coube aos elementos mais conservadores realizar, com alguns pares apenas, a mudança de tudo que ameaçasse mudar o seu mundo.

Hoje sofremos desse mesmo mal. Há pouca mudança no horizonte. Vejamos o caso da prisão do ex-presidente Lula. Não há como esconder a seletividade de uma justiça que faz política. O jogo é para prender uns, soltar outros e inocentar centenas ou milhares. É a mudança que não muda, apenas rearranja o jogo. Mas daí a acreditar que Lula é um mártir inocente vai uma distância colossal. Negar que ele não esteve no epicentro de um sofisticado esquema de cooptação e corrupção generalizada envolvendo agentes públicos e privados é de uma ingenuidade quase infantil.

Agarrar-se a tese de que ele não é um homem falível e corruptível mas sim uma “ideia” que tirou milhões de brasileiros da pobreza, é assumir que a esquerda brasileira não é lá muito diferente da direita nas suas práticas, apenas mais eficiente nos seus efeitos. Sintetizar as possibilidades da esquerda no “lulismo” é inaugurar uma síndrome de Robin Hood (desconsiderando ainda que os ricos em seu governo não foram “roubados e nem sequer incomodados...). Pior é reduzir a crítica ao novo deus imolado de puro fascismo... É nessa hora que nos tornamos o que combatemos.

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