A política em nossas terras tem a
peculiaridade de se modernizar de modo conservador. Dito em outras palavras, o
que é inovador em nossas práticas tem apenas a forma, a aparência e o nome. No
fundo, muda-se para conservar.
Um bom exemplo, para não dizer
lição, pode ser aprendido dos nossos livros de história. Vivemos uma república
que prometeu, na forma, ser a vanguarda transformadora de um império caduco,
atrasado, com o ranço aristocrático dos “casacas”. Entretanto, deixando aqui as
devidas ressalvas ao modelo de governança monárquico (o qual não tenho real
apreço), podemos observar um fato curioso: Um imperador se aproximando de uma
nova elite urbana e empreendedora, a abolição do trabalho escravo tendo em
vista uma progressiva transformação das relações de produção, entre outros
sonhos dourados que acalentavam um desejado Terceiro Reinado.
Mas aí veio a república, filha
unigênita de uma quartelada do exército, misturada em menor parcela com as
tintas quase inexpressivas dos ditos “pensadores” liberais. De liberal o
movimento teve pouca coisa, de fato. Até porque não foi essa gente que pariu a
criança nova da mudança, foram as camadas agrárias, escravistas, conservadoras,
que sustentaram e, assim que puderam, tomaram o governo aos goles de café com
leite, raivosas pelo abandono de Sua Majestade.
Ou seja, enquanto na Europa os
movimentos republicanos vinham acompanhados do engajamento e participação
popular e de uma efetiva transposição de poder e de concepção de Estado e de governo,
nas Américas coube aos elementos mais conservadores realizar, com alguns pares
apenas, a mudança de tudo que ameaçasse mudar o seu mundo.
Hoje sofremos desse mesmo mal. Há
pouca mudança no horizonte. Vejamos o caso da prisão do ex-presidente Lula. Não
há como esconder a seletividade de uma justiça que faz política. O jogo é para
prender uns, soltar outros e inocentar centenas ou milhares. É a mudança que
não muda, apenas rearranja o jogo. Mas daí a acreditar que Lula é um mártir
inocente vai uma distância colossal. Negar que ele não esteve no epicentro de
um sofisticado esquema de cooptação e corrupção generalizada envolvendo agentes
públicos e privados é de uma ingenuidade quase infantil.
Agarrar-se a tese de que ele não é
um homem falível e corruptível mas sim uma “ideia” que tirou milhões de
brasileiros da pobreza, é assumir que a esquerda brasileira não é lá muito
diferente da direita nas suas práticas, apenas mais eficiente nos seus efeitos.
Sintetizar as possibilidades da esquerda no “lulismo” é inaugurar uma síndrome
de Robin Hood (desconsiderando ainda que os ricos em seu governo não foram
“roubados e nem sequer incomodados...). Pior é reduzir a crítica ao novo deus
imolado de puro fascismo... É nessa hora que nos tornamos o que combatemos.
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