O reconhecimento da educação como
instrumento de cidadania e condição de empregabilidade parece ser consenso,
ainda que o assunto seja pouco discutido ou, quando isso é feito, é de modo
precário ou recheado de componentes de auto-ajuda. Já não é de hoje que os
governos tratam burocraticamente dos temas relacionados à concepção de
educação, lidando com ela como um porquinho no chiqueiro, ou seja, se tiver
tudo ali, água, comida e lama o bichinho se vira sozinho.
A preocupação com a educação
quase sempre é politiqueira. Quantos contratos, quantos empreiteiros, quantos
indicados a posições de direção... Uma engrenagem que se presta exclusivamente
a projetos de poder muito pessoais. Se há algum destaque, é por mérito de
indivíduos e não por um projeto, uma visão, um plano que sabe de onde começa e
para onde vai. No particular, ecos da meritocracia e das aprovações em testes
como aferidores de uma pseudo-qualidade.
Assim é quase certo que os
distintos leitores, apesar de certamente possuírem alguém familiar ou próximo
ainda em idade escolar, desconhecem a recente aprovação da Base Nacional
Curricular Comum, às quais todas as redes devem se adaptar até 2020, a partir
do próximo ano. Apesar da preocupação dos conselheiros, é bastante provável que
a concepção equivocada de sempre prevaleça nas redes, a de que a BNCC deve ser
copiada e colada como um currículo obrigatório, coisa que não é. E não pode,
por força da própria LDB, ser.
São vários pontos importantes.
Com relação ao ensino religioso, ao que parece, um ganho a valorizar o diálogo
produtivo com o conhecimento científico e a prevalência dos temas ligados a
ética, filosofia e valores compartilháveis. O mesmo não se pode dizer da
questão de gênero, ainda obscura e sem a divulgação final do texto que vai
instruir como trabalhar com a temática. Mas ao que indicam os movimentos
anteriores à votação, deve ser algo bastante geral e que provavelmente recairá
sobre questões de respeito e tolerância. A alfabetização é antecipada e
circunscrita aos dois primeiros anos do ensino fundamental, algo que quase
sempre foi realidade na rede privada (que garante alfabetização efetiva logo na
entrada desse segmento) do que na pública, onde “especialistas” teimam em
alongar o “processo”, quase que “por toda a vida”... Não é a toa que o segmento
público ainda tem essa imensa fragilidade justamente a partir dessa etapa. As
competências, por sua vez, não trazem grandes novidades, mas cumprem bem a
idéia de formação integral e holística, valorizando a articulação de saberes,
da articulação ambiental e pelo multiculturalismo. Perfeitamente aplicáveis.
Tudo isso é importante demais para ser ignorado.
É onde tudo começa. Mas esse começo tem gerado um fim obscuro: De acordo com
dados recentes do IBGE aumentou para 28% o número de jovens que, em 2016, não
estudam e nem trabalham. É sintomático e não deve ser interpretado como um dado
isolado. A geração “nem-nem” é muito fruto do que a politicagem fez com a
educação pública e do que a “plastificação” dos sistemas e apostilas fez com a
privada. Somado a isso, os tempos de crise e falta de um “lugar no mundo” para
essa garotada. Sobre isso vale a pena conversarmos numa próxima coluna.
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