O brasileiro é um povo tão
intenso quanto efêmero nas suas atitudes. Basta acessar qualquer site de
notícia, mídias convencionais e redes sociais para notar a enxurrada de
denúncias, matérias, provocações, revelações, posicionamentos e comentários
acerca das mais variadas modalidades de malfeitos. Entretanto, basta um piscar
de olhos para que a indignação e o espanto coletivos se percam nas brumas dos
memes, das notícias sobre a chegada de um evento, de um artista famoso ou da
vitória do time favorito no campeonato tão importante.
Os maus políticos são como aquele
personagem dos quadrinhos (agora também do cinema) que manipula o tempo e se
utiliza da barganha como instrumento. Eles sabem que a impunidade é questão de tempo,
preço e articulação. Pode ser realmente que o país esteja mudando de verdade.
Pode ser que vejamos os maus políticos falharem em suas apostas na efemeridade
da memória coletiva. Talvez consigamos viver tempos onde o dinheiro e o poder
não serão mais capazes de produzir dinastias e organizações criminosas
eleitorais.
Mas essa mudança que tanto
incomoda os maus políticos tem partido de uma pergunta fundamental:
Se você
tivesse a oportunidade de garantir poder e muito dinheiro para você, sua
família e um grupo próximo de amigos e com a capacidade de fazer isso durar
bastante tempo, você o faria? Antes de responder, cabe acrescentar: Muito
dinheiro significa comprar todo o luxo e o conforto de uma vida milionária,
comprar a impunidade que fará com que tudo isso se mantenha, comprar pessoas, comprar
sexo, comprar o que você quiser. E isso com o poder de montar um séquito de
dependentes com os quais você poderá manobrar a vontade, pois a sobrevivência
fará deles um corpo dócil de soldados mercenários. Você, com tudo isso nas
mãos, o faria?
Durante muito tempo as pessoas
tem respondido sim a essa pergunta. Tanto os eleitos, quanto os eleitores. Os
eleitos pela certeza até então da impunidade e os eleitores pelo sonho de uma
oportunidade de viver, pelo menos, um pouco como seus eleitos. Entretanto, algumas
pessoas tem respondido não. E não estou me referindo às oposições políticas,
pois o que as diferem muitas vezes da situação é a mera falta de oportunidade
de fazer o mesmo. É surrado o discurso de que o erro do meu político é
justificável e o do meu adversário não.
Falo dos que tem produzido denúncias, apurações, resoluções e exemplos
de combate a tudo o que vem sangrando nossa sociedade.
Não estamos passando dificuldades
em nossa pátria apenas por questões macroeconômicas. Passamos porque nossas opções
estão incorretas. Mas enquanto a diferença entre nós e um político corrupto for
o poder ou o mandato, pouco poderá ser produzido. De nada adiantará tanta
indignação se nas eleições do próximo ano dermos o nosso sim para os que farão
de tudo para que nada mude.
Mas a política não é um vale de
lágrimas absoluto. Existe muita gente boa, honesta e preparada. Com vontade
genuína de realizar em prol do coletivo. Só não se dá oportunidade e nem espaço
para elas. São as pessoas que também respondem não e nós precisamos ter a
inteligência de perceber que elas são o presente e o futuro. Elas não podem
comprar votos ou posições, não são “bem cotadas” pelo olhar do jogo viciado da
politicagem, só que é delas que mais precisamos no momento.
1 comentários:
Vejo esse cenário político e social no Brasil como uma roda que não para e muito menos girará ao contrário, vez por outra, pode até desacelerar, mas inércia é algo desconhecido na roda "política" do País. Digo isso, não como pessimista, mas como alguém que vê um horizonte cada vez mais sombrio. Só um colapso total é capaz de tirar a roda do seu curso, mas colapsos por sua natureza, descontroem, destroem bases e estruturas. Talvez seja isso que o Brasil precise, ser moído e recomeçar do zero, ou - 273, pois a essa tempetatura qualquer roda já parou a muito tempo.
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