Vamos iniciar em nossa coluna um
ciclo de discussões acerca de um tema de urgente e extrema importância:
Educação. Conversando com meus colegas docentes sobre os problemas que afetam a
área em diferentes níveis de intensidade, pude revisitar algumas observações
mais antigas e que continuam, assim como os problemas, um tanto atuais. Um
deles, que abre nossa conversa pode ser denominada de “síndrome do
capitão-do-mato”.
Na historiografia brasileira, o
capitão-do-mato é uma bem conhecida figura. Ele vem de baixo. Geralmente
recrutado dentre os mais pobres que sonham ter alguma ascensão social e ser
reconhecido como alguém de alguma importância, mesmo que para isso tenha que
exercer funções e fazer exatamente aquilo que destrói a dignidade de quem,
assim como ele, também “veio de baixo”, ou que pela condição de não possuir a
liberdade, está ainda mais abaixo na escala valorativa da sociedade.
O capitão-do-mato é o mestiço pobre
que tenta dar certo através de um único talento e um único mérito. O talento é
o de saber escolher um bom senhor para que dele possa dispor para todo e
qualquer desejo ou projeto, mesmo os mais sórdidos. Para isso, usa de seu único
mérito, o de ser tão fiel enquanto durar o uso. Com isso, o capitão-do-mato
amealha o medo dos mais subalternos, a quem tem que capturar, subjugar e
maltratar a mando dos poderosos e o prestígio de um bufão entre esses mesmo
senhores.
O que deixa o capitão-do-mato mais
nervoso não é o quilombo, símbolo de resistência. Ele lhe dá uma boa
oportunidade até. O de provar o quanto sua ausência de caráter pode desdobrar-se
a ponto de fazer sorrir de satisfação os seus senhores. A resistência, para o
capitão é uma prova para sua capacidade de espalhar o pior para que colha o
melhor dentre os que podem continuar a lhe dar o que deseja. Quando questionado
sobre o mal que faz a sua gente, o capitão faz a cena de ser humano, pode
chorar, pode franzir a testa e esboçar uma ponta de cansaço em ser tão
incompreendido em suas boas intenções quando sublima a vida alheia em troca da
sua fama efêmera.
Infelizmente a gestão educacional
brasileira faz jus a sua história. Sobretudo no setor público, na área da
gestão, é raríssimo encontrarmos nos colegas professores a figura exponencial
de um agente de transformação. Encontramos o velho capitão, cavaleiro de triste
figura. Desse modo, só nos resta a luta. Organizada, firme, insistente, sem
buscar nada além da vitória dos verdadeiros competentes. Assim os senhores do
poder, ao menos enquanto o tiverem nas mãos, podem enxergar com mais clareza o
que significa o fenômeno educação para o seu povo.
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