domingo, 11 de março de 2018

Qual Jovem? (Publicado no jornal Folha dos Lagos de 10/3)




Com a aproximação das eleições voltamos a escutar uma dúzia e meia de discursos sobre a juventude, seu papel, sua importância, a necessidade de fazer parte da política. Entretanto o termo é tão genérico quanto tudo que dizem ser o tal receituário participativo. De fato o jovem não está tão longe da política assim. É necessário apenas compreender de que jovens estamos falando.

Por exemplo, para os velhos esquemas políticos os seus jovens são uma necessidade de apresentar uma novidade, uma nova cara, mas com tudo que pode representar permanência no poder. Para piorar a situação, os mimados novinhos conseguem ser ainda piores e mais danosos a sociedade do que seus predecessores. Explica-se. Os que conseguiram no passado formar grupos políticos razoavelmente bem sucedidos, utilizando para isso todas as artimanhas e práticas comuns ao nosso fazer político, o fizeram com algum grau de compromisso com seu espaço vital.

Porém, as crias naturais ou agregadas desses grupos, não foram acostumadas com a necessidade ou com a dificuldade em consolidar-se com algum legado concreto. São da geração que se deu ao luxo dos cargos fantasmas, das vantagens e benesses, da absoluta falta de necessidade de uma carteira assinada ou de um expediente com metas de produtividade. Ao emergir para a vida pública, o único compromisso dessa juventude é a manutenção do poder e, obviamente, enriquecer. E só. Não é possível estabelecer nenhum compromisso com esse tipo de jovem político. Não possuem visão além do cifrão. Na verdade, essa juventude não precisa nem ao menos fazer política, no sentido clássico, relacional do termo. Seus grupos já vem pagos e a “máquina” já vem ligada para que eles apenas pilotem sem maiores preocupações. Tudo cai facilmente no colo para que apenas possam fazer os acordos que mais atenderem aos seus caprichos pessoais.

O outro tipo de jovem é o das classes populares. Aqui, há os que vêm com etiqueta de preço e engrossam os exércitos de cabos eleitorais remunerados daqueles outros jovens que continuarão muito ricos a custa da pobreza dos que levam seus santinhos para as ruas e para as urnas. E há os que despertam para alguma criticidade, militância, posicionamento. Não se vendem. Não se corrompem. Querem discutir, mesmo que ainda de maneira um tanto enviesada, projetos e idéias. Mas esses são os jovens chamados de ruins, de manipulados, de maconheiros, de esquerdopatas ou coisas do gênero.

Claro que os jovens políticos dos velhos esquemas não podem parecer o que realmente são. Instáveis, inexperientes, rasos e extremamente vingativos. Para isso usam seus prepostos, fazendo toda a maldade possível, mas vendendo uma falsa discordância entre os dois lados de uma mesma moeda.  É como agiota que diz discordar da tortura mas que não pode fazer nada, pois o torturador é “de outro departamento”.

Sendo assim, prestemos atenção quando o assunto é juventude e, especialmente, movimentos de juventude. Nem sempre temos grandes novidades para além da politicagem.

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