Existe uma perspectiva
explicativa na física que é ao mesmo tempo fascinante e assustadora: o presente
não existe. Melhor dizendo, ele até pode existir, mas não para nós, pois não
conseguimos conhecê-lo no exato momento em que ele se produz. Os referentes que
chegam aos nossos sentidos podem ter um atraso de um bilionésimo de segundo, o
que o coloca necessariamente, no passado. A luz do sol que enxergamos é uma história
de oito minutos que já se foram, assim como a luz de vários outros astros, alguns
possivelmente extintos. É um destino surpreendente: quando acreditamos enxergar
o futuro, é para trás que olhamos.
Talvez seja a história a
tradutora por excelência dessa experiência para o campo das humanidades. É por
isso que ousamos defender que ela ilumina o futuro, pois ao olharmos para o
agora ou adiante, é o passado que enxergamos de fato. Alguns acreditam que ela
nos dá lições. Não creio, mas professo a fé nos presságios e avisos. Se a
história teima em não repetir o mesmo vestido e par de sapatos, o que podemos
fazer é admirar sua beleza e com ela aprender por analogia.
Essa é uma maneira intrigante de
pensarmos a realidade de nosso país. Num campo onde não temos como lançar mão
de uma teoria elegante, tal qual um teorema, ou mesmo exata como um ciclo
astronômico, resta-nos o material volátil do produto humano, sua maneira de
perceber as coisas, de resolvê-las e, mais do que isso, de dar a ela sentidos e
a partir deste, viver.
O embate entre Lula e Moro é o
produto mais ridículo de algo que deveria ser levado a sério. Mas longe do
produto inédito da história, nos deparamos praticamente com uma fórmula
conhecida, talvez de química, onde certos elementos combinados sempre terão ao
final a mesma substância. É hilariante acreditar numa perseguição política ao
Lula. Comédia barata a presunção de seu desconhecimento de tudo o que apura a
Lava Jato, assim como de sua digital em todos os cantos. E tudo nas mãos de um
juiz pop star, com capa de super herói, trejeitos de salvador da pátria que,
por onde passa, cumpre agenda política, praticamente de candidato.
O resultado de tudo isso não
surpreenderá a ninguém. A corrupção não choca o brasileiro, apenas o entedia.
As chamadas esquerdas estão niveladas a mediocridade da direita. Ambas se
tornaram credos recheados de idolatrias, cada qual com seus santos e messias.
Não mais do que dois caminhos são possíveis a partir do depoimento
shakespeariano: no primeiro Lula é condenado, a Lava Jato prossegue, a
república é refeita a partir do banimento da quase totalidade de safados com
cargos eletivos e com mecanismos legais que impeçam o eleitor sem vergonha de
voltar a eleger a safadeza; no segundo Lula é reconduzido a cargo de presidente
para levar o Brasil a um acordo “nunca antes visto na história desse país”. Todos
salvos e tudo voltando como era antes. A corrupção se institucionaliza e
poderemos ser tão bons politicamente quanto uma Venezuela. Mas o importante é
que o mercado voltará a sorrir e o povo a comprar a prazo suas passagens
aéreas. Todos “empoderados”, com bons cargos na máquina generosa, e uma miríade
de confortáveis espaços de isolamento em suas peculiaridades...
O futuro, velho conhecido, é para
nós pretérito imperfeito.
0 comentários:
Postar um comentário