segunda-feira, 8 de maio de 2017

Volta Querido (publicado na Folha dos Lagos Edição de 6/5)

Servido à temperatura ambiente, o governo Temer não passa até o momento de um antepasto do que seria o prato principal: Um novo governo capitaneado pelo PSDB. Nessa condição, transitória, os pães e pastas cumpririam um papel importante, antecipando todas as premissas necessárias e desgastantes para uma nova tentativa de tornar o país, enfim, neoliberal. Entretanto, um dos petiscos servidos durante a apresentação gastronômica, ganhou ares gourmet e parece ter vida própria, contando com uma mídia particular e holofotes personalizados: A Operação Lava Jato. Mas não estão preparando direito a iguaria. Em algum momento um aprendiz de cozinheiro entornou água na fervura do óleo e quem cozinha sabe o que acontece com essa mistura, espirra em todo mundo.

E como salvar o jantar nessas circunstâncias? Recentemente vi uma postagem em redes sociais afirmando haver um medo generalizado pelo retorno de Lula à macia e confortável cadeira presidencial. Em outros tempos, os dos ensaios revelados no mensalão, até acreditaria nesse temor. Com uma oposição em frangalhos, só a desmoralização de um governo amoral poderia surtir algum efeito. Burros n’água. Lula elege Dilma e Dilma quase enterra Lula, o PT e o brazilian way of life da política. Com a saída da “presidenta”, um cenário mais feliz se assanhou para todos. Para Lula, um alívio. Para a oposição, agora neo-situação, a oportunidade de tomar de assalto o país. Por isso, durante certo tempo, expor, culpar e punir Lula pelos seus pecadilhos (veniais ou mortais) seria o desfecho ideal da saga heróica dos que disseram SIM à queda de Dilma e que chancelavam as ações de Moro e companhia.

Não é mais assim. O desfecho da história se escreve com uma pena torta e as linhas são de uma lavra estranha. Quanto mais o fogo purificador da Lava Jato e suas co-irmãs envolve a galope políticos e empresários que seriam justamente os “Noés” após o dilúvio que levou a pique Dilma, mais se percebe um esforço descarado dos três poderes em desistir de uma brincadeira que foi longe demais.
Como não é possível, viável ou ao que parece desejável passar o Brasil a limpo, rever as práticas e estruturas políticas nos três poderes, redesenhar um Estado necessário ao povo e redefinir seriamente o papel da sociedade nesse contexto, tornou-se uma condição vital, imprescindível, necessária, a volta de Lula a presidência. Somente Lula tem o traquejo para resolver a vida de todos. 

É hora do “papai” arrumar a bagunça das crianças, sobretudo as que “mamãe” deixou. Imagine o leitor os benefícios que o país rapidamente vai auferir com Lula no Executivo, Gimar no Judiciário e figuras como Renan Calheiros no congresso? Estaremos todos a salvo.  O povo voltará a sentir-se empoderado por poder comprar, se endividar e contar com uma razoável proteção do Estado em termos de serviços. Os ricos voltarão a lucrar como nunca, sem o menor incômodo. A classe política voltará a viver dos seus esquemas, preferencialmente com a ajuda dos empresários de porte e do judiciário.


Não temos o cacoete da seriedade no Brasil. Sabemos bem o que funciona e precisamos sair da crise! Mas que ao menos alguém evite um novo Roberto Jefferson ou um Cunha. Por que se conseguirmos emplacar o barbudo de novo, é melhor que ninguém atrapalhe a cura do país.

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