sábado, 30 de dezembro de 2017 0 comentários

Ano Novo? (Publicada no jornal Folha dos Lagos de 30/12)


O que esperar para 2018? Creio em particular que seja um ano com pelo menos duas grandes tendências: A de consolidar a mesmice ou acender a fagulha de uma transformação mais intensa. Para a primeira opção pesa a história. Corrupção e crise não são novidades e as pessoas aqui tem o mau hábito de apenas perceber uma em função da outra. Ou seja, apenas em momentos de crise é que a corrupção é percebida como algo nocivo. Quando ela é vencida, a corrupção volta ao patamar do aceitável. Na verdade quando as pessoas estão minimamente satisfeitas com o que tem, os malfeitos na coisa pública são notados ou como uma regra do jogo inevitável ou como algo que um dia, quem sabe, pode vir a beneficiar direta ou indiretamente.

Desse modo, não acredito que tenhamos surpresas nas eleições desse ano caso a crise comece a melhorar. Os grupos políticos, mais especificamente os construtores de dinastias, sabem bem que para o eleitor, quando este está levando uma vida normal, basta apenas um dinheiro e algumas promessas. Em suma, melhorando o cenário, vamos assistir embasbacados campanhas de deputados dinásticos turbinadas por vários segmentos da população que antes clamavam por mudança. Mas se a crise não melhorar esses grupos terão mais dificuldade. Aí nem o dinheiro resolve o problema. Vamos então torcer pela crise prolongada? Tentador. Mas não é o caminho.

Só que para haver a melhora é preciso projeto, estudo e inteligência. Três coisas que geralmente os governos tem pouquíssimo ou nenhum apreço. As máquinas públicas se tornaram algo estranho. Precisam responder aos sinais dos tempos, sobretudo os agudos, mas ao mesmo tempo manter a estrutura que sempre fizeram as coisas ser como são. Nessa conta, sobram iniciativas individuais aqui ou acolá mas sem articulação, sem fazer parte de uma visão maior... Fazer administração pública hoje se tornou uma colcha de retalhos, em partes você encontra seda, em outras, pano de saco. No final, o cobertor fica estranho, irreconhecível, as vezes imprestável.

A chance de mudança passa por essa reflexão. Teremos a oportunidade de usar os melhores quadros, entre futuros eleitos e futuros trabalhadores na coisa pública, sem que o critério seja o de pertença a grupo tal e qual. Isso é primário e estúpido. Até porque muitos bons quadros se tornam meros bibelôs. Estão lá para que se possa, quando necessário, dizer que estão. O chamado verniz. 

Oportunidades mesmo, sempre são dadas aos que se dispõem aos esquemas fisiológicos, aos que não se importam em ser fantoches, aos que só querem um bom salário e não se preocupam minimamente com o sentido da palavra servidor. São para os que conseguiram juntar votos ou a promessa deles. Uma confederação de menos capazes.

Só que os tempos pedem os melhores. Que tenhamos a coragem de dar a eles a oportunidade de fazer o que podem. Para isso, não basta desejar, mas construir um 2018 de competência e de diálogo.


Feliz ano novo.
sábado, 23 de dezembro de 2017 0 comentários

Feliz Natal (Publicado no Jornal Folha dos Lagos de 23/12)



Historicamente o natal é comemorado como uma festa cristã. Estima-se que mais de dois bilhões de pessoas estarão, no próximo dia 25, relembrando o nascimento de Jesus de Nazaré. O que nem todos sabem é que esse conjunto de referências que envolvem a data não pertence de modo direto aos seguidores do divino aniversariante e, em tempos de intolerância e esquecimento dos diferentes modos de nos religarmos a tudo o que nos cerca, vale a pena um papo histórico para acompanhar os festejos.

A começar pela própria data. O nascimento de Jesus não chega a ser nem uma estimativa e sim uma definição apriorística. Por volta do ano 200 definiu-se a data de 20 de maio. Mais a frente, 180 anos depois, a data passa a ser a que hoje tradicionalmente é celebrada: 24/25 de dezembro. E por quê? Na primeira data citada, o cristianismo era uma seita ilícita nos domínios de Roma. Antes da segunda data um fato memorável definiria a virada do jogo: A conversão do imperador Constantino em 312. De seita ilícita a permitida e encorajada, a religião moral passou a ganhar adeptos em escala. O próprio imperador, no dúbio papel de chefe da nascente Igreja Cristã e de expoente máximo do paganismo, sintetizou o que seria a tônica dali por diante, o sincretismo que aos poucos traria as crenças e práticas populares para o seio da cristandade. Lembrando que o termo “pagão” designa as pessoas simples, do campo ou ligadas a terra.

Então vamos lá. Em 25 de dezembro era celebrado o Yule, o solstício de inverno no hemisfério norte (e celebrado o sol de verão no sul...), festa muito popular no paganismo. Mas não só. Era um dia atribuído ao deus Mitra. O culto de mitra era tão disseminado quanto o cristianismo no período, sobretudo entre os soldados romanos. Curiosamente, o mitraismo era uma religião de estrita moral, de um deus (Mitra) que nasce de uma virgem e a ele é atribuído o domínio do sol invicto, a coroa do mundo e que é visitado por magos nesse dia... Além disso, o mitraísmo tem como ponto culminante de sua ritualística uma ceia com pão, água, vinho e carne, teve doze discípulos, fez muitos milagres, era branco de olhos azuis e cabelos compridos, morreu e ressuscitou três dias depois...

Dar ou trocar presentes – algo que hoje atribuímos ao espírito do capitalismo – também era uma prática pagã atribuída a deusa romana Strenia. Assim como a popular árvore de natal! Nos diferentes tipos de paganismo a árvore simboliza a fertilidade, a vida, firmeza, longevidade, sabedoria e ancestralidade. Nos festivais, troncos cortados ou mesmo as grandes árvores como pinheiros, freixos, seixos e outros eram enfeitados com pedras, ossos, frutas, etc... Há histórias do velho Odin visitando o mundo com seu cavalo de oito patas distribuindo presentes a quem deixasse doces nas meias.


Assim, não importa como você comemore esse natal. Apenas o faça lembrando do que nos torna tão humanos e fascinantes! Os valores de bondade, solidariedade, honestidade, gratidão e unidade. Que façamos nossos brindes, votos lembrando exatamente de tudo que é necessário, não importando o tipo da crença mas sim o que delas temos de melhor.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017 0 comentários

Mudança na Base (Publicado no Jornal Folha dos Lagos de 16/12)


O reconhecimento da educação como instrumento de cidadania e condição de empregabilidade parece ser consenso, ainda que o assunto seja pouco discutido ou, quando isso é feito, é de modo precário ou recheado de componentes de auto-ajuda. Já não é de hoje que os governos tratam burocraticamente dos temas relacionados à concepção de educação, lidando com ela como um porquinho no chiqueiro, ou seja, se tiver tudo ali, água, comida e lama o bichinho se vira sozinho.

A preocupação com a educação quase sempre é politiqueira. Quantos contratos, quantos empreiteiros, quantos indicados a posições de direção... Uma engrenagem que se presta exclusivamente a projetos de poder muito pessoais. Se há algum destaque, é por mérito de indivíduos e não por um projeto, uma visão, um plano que sabe de onde começa e para onde vai. No particular, ecos da meritocracia e das aprovações em testes como aferidores de uma pseudo-qualidade.

Assim é quase certo que os distintos leitores, apesar de certamente possuírem alguém familiar ou próximo ainda em idade escolar, desconhecem a recente aprovação da Base Nacional Curricular Comum, às quais todas as redes devem se adaptar até 2020, a partir do próximo ano. Apesar da preocupação dos conselheiros, é bastante provável que a concepção equivocada de sempre prevaleça nas redes, a de que a BNCC deve ser copiada e colada como um currículo obrigatório, coisa que não é. E não pode, por força da própria LDB, ser.

São vários pontos importantes. Com relação ao ensino religioso, ao que parece, um ganho a valorizar o diálogo produtivo com o conhecimento científico e a prevalência dos temas ligados a ética, filosofia e valores compartilháveis. O mesmo não se pode dizer da questão de gênero, ainda obscura e sem a divulgação final do texto que vai instruir como trabalhar com a temática. Mas ao que indicam os movimentos anteriores à votação, deve ser algo bastante geral e que provavelmente recairá sobre questões de respeito e tolerância. A alfabetização é antecipada e circunscrita aos dois primeiros anos do ensino fundamental, algo que quase sempre foi realidade na rede privada (que garante alfabetização efetiva logo na entrada desse segmento) do que na pública, onde “especialistas” teimam em alongar o “processo”, quase que “por toda a vida”... Não é a toa que o segmento público ainda tem essa imensa fragilidade justamente a partir dessa etapa. As competências, por sua vez, não trazem grandes novidades, mas cumprem bem a idéia de formação integral e holística, valorizando a articulação de saberes, da articulação ambiental e pelo multiculturalismo. Perfeitamente aplicáveis.

Tudo isso é importante demais para ser ignorado. É onde tudo começa. Mas esse começo tem gerado um fim obscuro: De acordo com dados recentes do IBGE aumentou para 28% o número de jovens que, em 2016, não estudam e nem trabalham. É sintomático e não deve ser interpretado como um dado isolado. A geração “nem-nem” é muito fruto do que a politicagem fez com a educação pública e do que a “plastificação” dos sistemas e apostilas fez com a privada. Somado a isso, os tempos de crise e falta de um “lugar no mundo” para essa garotada. Sobre isso vale a pena conversarmos numa próxima coluna.
sábado, 9 de dezembro de 2017 1 comentários

A Pergunta Certa (Publicado no Jornal Folha dos Lagos de 9/12/17)



O brasileiro é um povo tão intenso quanto efêmero nas suas atitudes. Basta acessar qualquer site de notícia, mídias convencionais e redes sociais para notar a enxurrada de denúncias, matérias, provocações, revelações, posicionamentos e comentários acerca das mais variadas modalidades de malfeitos. Entretanto, basta um piscar de olhos para que a indignação e o espanto coletivos se percam nas brumas dos memes, das notícias sobre a chegada de um evento, de um artista famoso ou da vitória do time favorito no campeonato tão importante.

Os maus políticos são como aquele personagem dos quadrinhos (agora também do cinema) que manipula o tempo e se utiliza da barganha como instrumento. Eles sabem que a impunidade é questão de tempo, preço e articulação. Pode ser realmente que o país esteja mudando de verdade. Pode ser que vejamos os maus políticos falharem em suas apostas na efemeridade da memória coletiva. Talvez consigamos viver tempos onde o dinheiro e o poder não serão mais capazes de produzir dinastias e organizações criminosas eleitorais.

Mas essa mudança que tanto incomoda os maus políticos tem partido de uma pergunta fundamental: 
Se você tivesse a oportunidade de garantir poder e muito dinheiro para você, sua família e um grupo próximo de amigos e com a capacidade de fazer isso durar bastante tempo, você o faria? Antes de responder, cabe acrescentar: Muito dinheiro significa comprar todo o luxo e o conforto de uma vida milionária, comprar a impunidade que fará com que tudo isso se mantenha, comprar pessoas, comprar sexo, comprar o que você quiser. E isso com o poder de montar um séquito de dependentes com os quais você poderá manobrar a vontade, pois a sobrevivência fará deles um corpo dócil de soldados mercenários. Você, com tudo isso nas mãos, o faria?

Durante muito tempo as pessoas tem respondido sim a essa pergunta. Tanto os eleitos, quanto os eleitores. Os eleitos pela certeza até então da impunidade e os eleitores pelo sonho de uma oportunidade de viver, pelo menos, um pouco como seus eleitos. Entretanto, algumas pessoas tem respondido não. E não estou me referindo às oposições políticas, pois o que as diferem muitas vezes da situação é a mera falta de oportunidade de fazer o mesmo. É surrado o discurso de que o erro do meu político é justificável e o do meu adversário não.  Falo dos que tem produzido denúncias, apurações, resoluções e exemplos de combate a tudo o que vem sangrando nossa sociedade.

Não estamos passando dificuldades em nossa pátria apenas por questões macroeconômicas. Passamos porque nossas opções estão incorretas. Mas enquanto a diferença entre nós e um político corrupto for o poder ou o mandato, pouco poderá ser produzido. De nada adiantará tanta indignação se nas eleições do próximo ano dermos o nosso sim para os que farão de tudo para que nada mude.


Mas a política não é um vale de lágrimas absoluto. Existe muita gente boa, honesta e preparada. Com vontade genuína de realizar em prol do coletivo. Só não se dá oportunidade e nem espaço para elas. São as pessoas que também respondem não e nós precisamos ter a inteligência de perceber que elas são o presente e o futuro. Elas não podem comprar votos ou posições, não são “bem cotadas” pelo olhar do jogo viciado da politicagem, só que é delas que mais precisamos no momento.
domingo, 15 de outubro de 2017 0 comentários

Salvem a Educação Brasileira (artigo publicado na Folha dos Lagos de 14/15 de outubro)


Antes que seja tarde demais. A contar da publicação desta coluna estima-se que levaremos no mínimo dez anos para, caso realmente a educação se torne uma prioridade, alcançarmos os primeiros degraus dos países mais avançados. Os exemplos são muitos. Há quatro décadas éramos proporcionalmente mais ricos que a Coréia do Sul. Tempos mais tarde a visão coreana priorizando os investimentos na educação inverteu, com bastante folga, essas posições.

Os problemas brasileiros são bem conhecidos, ainda que mal estudados. O mais crítico deles esta na esfera das relações políticas. A começar pela excessiva centralização imposta pelo MEC, transformando-o numa dispendiosa estrutura de controle. Criado sob a concepção varguista de um estado forte e educador do povo, permanece com essa herança de longa duração, impedindo o protagonismo dos estados e a adequação mais efetiva às múltiplas realidades do nosso país continental. Mas a solução seria empoderar as secretarias estaduais e municipais? Não é tão simples assim. Conhecidas de longa data como correias de transmissão das práticas políticas/eleitorais, as secretarias sofrem com a contaminação dos projetos de poder. A competência e a experiência ficam quase sempre em segundo plano e isso se aplica aos professores nomeados para essas tarefas. Afinal, temos muitos professores ruins e que, por trocados e pela ilusão vaidosa do poder, se prestam a qualquer serviço.

Além desses fatores, nos baseamos mais em estatísticas do que em conhecimentos produzidos. O Brasil é campeão nisso. Em educação já temos estatísticas das estatísticas e elas bastam, sob o argumento de que os números “falam por si”. Há truísmos como o do investimento de X por cento em educação. Nada garante que separar 10, 20, 50 ou 70% da arrecadação para a educação vá gerar melhorias. Afinal, de nada adianta muito dinheiro mal gasto, ou desviado... Enquanto isso, nos pegamos em planos e mais planos generalistas que não se refletem seu âmago em três pontos de fundamental importância: efetividade/tempo, controle social e permanência, não sendo descartado a menor mudança eleitoral.

É claro que precisamos rever nosso modo de investir em educação. Hoje basicamente, dos níveis mais fundamentais ao superior, reduzimos o processo educacional ao mero pagamento de salários. E em muitos casos nem isso vem acontecendo e sem a menor preocupação por parte da classe política que aprendeu, faz tempo, a demonizar a luta do magistério jogando contra ele os pais dos alunos usuários da rede pública. Fala-se com tanto garbo do futuro das crianças, levando a  crer que fazer muito com poucos recursos, sem remuneração adequada ou mesmo sem remuneração nenhuma, é o dever de todo bom professor. Chamam isso de amor.

Para comemorar o dia dos professores precisamos levar a sério tanto o ofício quanto a educação em si, da formação à estrutura (menos de 1% das escolas brasileiras tem o mínimo necessário para colocá-las no século XXI), da finalidade aos frutos, das pesquisas ao desenvolvimento e deste para a formação de uma nova nação.


Basta querer. E para isso a primeira providência é banir a politicagem da educação, substituindo-a pela competência (2018 é a primeira chance de surrar nas urnas os politiqueiros da educação) e pelo espírito público (o lobby dos conglomerados privados em todos os níveis é absurdamente influente na política). A segunda é priorizá-la como alavanca de progresso humano e social. A terceira é fazermos isso juntos.

terça-feira, 29 de agosto de 2017 1 comentários

Soco de Esquerda (Publicado no Jornal Folha dos Lagos de 26/8/17)



Muito pior do que a agressão a um profissional, como foi o caso recente da professora atingida por um soco pelo seu aluno, são os comentários e reflexões postadas nas redes sociais por lideranças religiosas, políticos de mandatos e por sua cáfila de seguidores. Como entender o argumento de um indivíduo que fala abertamente que as opções políticas de uma professora, mesmo as equivocadas de acordo com os princípios de quem critica, são igualmente medidas pela mesma régua, ou seja, riu e apoiou a “ovada” em político? Agora agüenta calada...

Se não fosse trágico, seria cômico um pastor defender que os seguidores ou estudiosos de Paulo Freire são igualmente merecedores desse tipo de iniciativa pois, segundo sua rasteira e pífia interpretação do que não leu e muito menos conhece, seria Freire o responsável pela retirada da autoridade do professor ao qualificar os alunos, como o agressor em questão, como um bando de coitadinhos.

Como um estudioso e prático do assunto, tenho o pleno direito de discordar de Freire em alguns pontos, concordar em muitos outros, mas nunca o vi dizendo que os papéis de professor e alunos se misturam ao ponto do profissional perder sua posição no processo de ensino-aprendizagem. Tampouco o vi usar o termo “oprimido” como escudo aos violentos e transgressores, mas como a percepção lúcida de quem sofre com uma educação de qualidade limítrofe, de empregos de baixo ganho e muita exploração, de uma vida pouco além do que seria necessário para não ser indigente.

Não lembro igualmente de ver Paulo Freire usar o nome de Deus para curas falsas, mesmo para os males do analfabetismo e da ignorância... Não o vi tomar o dinheiro do mais pobre, desse tal oprimido, prometendo a ele o milagre de uma prosperidade material. Não o vi enriquecer assim para servir de exemplo de como Deus é bom com uns a custa da manipulação de muitos.

O que essas pessoas desejam quando falam de “autoridade do professor”? Como são absolutamente leigos e rasos no assunto, advogam uma escola na qual a violência seja a pedra de toque de uma obediência cega, absoluta, marcial. Que o professor tenha a licença para usar de todos os meios, inclusive o físico, para seviciar e docilizar os corpos dos seus alunos. Faltou apenas aparecer a hashtag “#VoltaPalmatória”. São os mesmos que falam aos ventos que a escola pública é doutrinadora de esquerda. Se houvesse tanta doutrinação como dizem, o país já seria comunista há décadas. E não vale dizer que só não viramos porque eles, os verdadeiros patriotas, soldados do Deus verdadeiro, não deixaram isso acontecer.

A violência nas escolas não é um problema causado pela esquerda. Não é causado por professores de esquerda. Não é culpa de Paulo Freire, de Marx, Engels ou do PT. É um produto cruzado da sociedade que somos, com muitas e complexas causas.  Mas como entender isso quando se diz que, se é de esquerda tudo bem, pode apanhar ou aluno bom é aluno morto?


Paulo Freire ainda faz falta.
domingo, 20 de agosto de 2017 2 comentários

O Despertar da Ignorância (Publicado no jornal Folha dos Lagos de 19/8)



Enganou-se quem acreditou que o Brasil foi passado a limpo com as recentes operações e investigações. Ao contrário dos pessimistas, penso que uma coisa positiva prosperou: Colocou em letras mais nítidas ao mais simples dos cidadãos como funcionam e se articulam os três poderes para o exercício da corrupção institucionalizada.

É cristalina a convicção de que as engrenagens que movem a estrutura da corrupção institucionalizada envolvem mandatários do Executivo, parlamentares, juízes e magistrados de todas as togas. É a chamada Alta Roda. Daí para baixo, os nichos de poder se dissipam de modo a agregar uma fração de mando por meio de indicações, controle de verbas ou mesmo pelo controle de partidos e eleitos mais localizados, como nas municipalidades. No estômago dessa víbora, lentamente, são digeridos os ilícitos municipais, estaduais e federais, indistintamente, como parte do mesmo processo gástrico que a tudo une como alimento indiviso.

As manobras feitas a todo custo e com elevadíssimo preço para a sociedade para salvar o pescoço da Alta Roda, foram os ingredientes que faltavam para disseminar na população dois sentimentos perigosos, a descrença e a radicalização da ignorância.

O primeiro é a zona de lamento que nos leva ao estado de negação. Generalizamos o tudo na conta do nada presta e, com isso, ou deixamos de participar ativamente da vida pública ou arrumamos um modo de fazer parte do jogo, mesmo à boca miúda. A segunda, a radicalização da ignorância, é também velha conhecida da história. Está por detrás de todos os movimentos fascistas e arbitrários. A ignorância também generaliza o problema, mas constrói inimigos úteis a quem os instrumentos do ódio, da violência e da supressão de direitos fundamentais passam a ser o remédio tão amargo quanto fictício de todos os seus malefícios.  

Nessa perspectiva, os culpados pelos pecados que afligem a república corrupta são os pobres, os favelados, os negros, os homossexuais, os indígenas, os alunos das escolas públicas, as camadas mais massacradas das classes trabalhadoras.

Quando se institui a descrença, abrem-se as portas para a ignorância radical. E suas raízes estão cada vez mais longas e capilarizadas, crescendo no mesmo ritmo das redes sociais e demais mídias de grande alcance. E ela funciona pois é fácil demais de compreender. O ódio é o sentimento mais simples que existe. Não precisa fazer sentido. Aponta-se para o objeto que no momento se deseja atingir e vai vivendo de alvos a cada nova produção de destroços sociais.


E no cenário que temos, com as decadentes e viciosas instituições nas mãos dos manobristas das safadezas, é de se esperar pelo pior. Já existem líderes, seguidores e motivos. E a fagulha não vai tardar em ser acesa.
domingo, 16 de julho de 2017 0 comentários

O Retorno de Lula (Publicado na Folha dos Lagos de 15/7)



Lula é o próximo presidente da república. O ato final de Moro era esperado. Não havia como não condenar o ex-presidente, pois a peça processual era teleológica, ou seja, desde o início já se conhecia o fim. O problema eram os meios, o recheio do bolo. Não conseguiu a robustez que impeça Lula de escapar, mais uma vez, ileso. Mesmo que todo e qualquer cidadão minimamente informado saiba que Lula também está no epicentro de toda a trama, o ex-presidente, cuidadoso, soube melhor do que os demais conservar-se quase intocável.

Moro o tocou de resvalo, mas não pensemos que vai além disso. Ao deitar a cabeça em descanso na Bíblia, ao fim do seu trabalho de algoz, talvez antecipasse ou vislumbrasse o fim ou os problemas que enfrentará na sua carreira de magistrado a partir do próximo ano com a volta de Lula ao poder. Se for vingativo, não deixará passar em branco todo o transtorno causado a si e aos seus. Se não for, ao menos não deixará Moro em paz.

Não vejo outro cenário do que a segunda instância inocentar o ex-presidente por falta de provas diretas, concretas e materiais, algo que Moro não conseguiu produzir com todo seu contorcionismo retórico e todo o conjunto de ilações que mais se ancoraram em presunções do de que propriamente em provas. Desse modo, não podemos esperar que uma segunda instância possa levar a sério uma decisão dessa natureza.

E com a absolvição, o tiro sai definitivamente pela culatra, pois se hoje ele já é imbatível em qualquer simulação, quando for inocentado, vai verdadeiramente incendiar o país com toda a força do seu poderoso discurso e sua indiscutível habilidade política, atacando as reformas, a pobreza, a estagnação, a perseguição dos seus inquisidores e, não estranhem, atacando a corrupção.

Quem morre definitivamente nesse cenário é o PSDB. Viveu um conto de fadas com Aécio. Viu a carruagem tornar-se abóbora e pode piorar ainda mais com o progressivo esvaziamento de suas lideranças no cenário nacional. Pelo mesmo caminho irão os que não conseguirem dialogar com Lula e a conversa começa agora.


Assim, a Lava-Jato começa a ficar muito estranha. Antes acreditava-se que se tratava de uma ação para livrar o país da corrupção. Agora mais parece uma limpeza que é feita quando uma quadrilha desanca a outra para ocupar ou reocupar o território dos ilícitos. Seja como for, somente o Executivo e o Legislativo foram expostos e sangrados. E a própria operação vem mostrando que mudança de verdade, só ocorrerá quando chamarem o Judiciário às falas. Enquanto isso...
domingo, 9 de julho de 2017 0 comentários

Progressiva Descrença (Publicado na Folha dos Lagos de 8/7)



Não acreditar é uma das mais difíceis e dolorosas experiências. Creio que a infância do gênero humano é essencialmente crédula. Acreditamos por necessidade de estabelecer sentidos, compreender esse fenômeno complexo chamado “vida”. Por esses caminhos, fomos apresentados ao longo das eras às entidades astrais, às forças naturais, aos deuses humanos e sobre-humanos, a deuses vários ou a um único e soberano criador.

Mas não é só de re-ligações que vivemos a experiência de crer. Desenvolvemos a crença nas pessoas e naquilo que um conjunto de pessoas constrói. Assim nasceram nossos exemplos, nossos referentes, e as diferentes perspectivas de compreensão de como as coisas são ou deveriam ser.

Ao longo do tempo, oscilamos o destino dessas crenças. Já fomos fervorosamente crédulos pela leitura do maravilhoso como construtor da realidade. Já revertemos essa polaridade, colocando as coisas como condição de saciedade e complementamos, por antítese, essa mesma materialidade na forma de estopim revolucionário de uma modalidade comunal. No meio de tudo isso povoou a imaginação, as mentes e corações, os mais célebres e influentes seres humanos. Ou seja, já vivemos tempos de inspiração, seja pela fé, pela ciência e técnica, ou mesmo pela verve e lavra do pensamento de homens e mulheres de luta.

Hoje somos descrentes. Talvez porque se cumpra nos tempos atuais alguma espécie de maldição ancestral (ou pecado original segundo leituras outras...). Ou porque cotidianamente somos forçados a não acreditar em mais nada e nem em ninguém. Razões para justificar esse comportamento são fartas. No campo das religiões, o charlatanismo, as alegorias, adereços e devaneios das corporações da fé, ávidas em produzir uma indústria pródiga em vender a diferentes preços tudo o que o capitalismo nega em seu corte de classe: saúde, riqueza e fama.

Tampouco acreditamos nas pessoas. Nos políticos então nem se fala. Motivos também são fartos e é quase fato consumado que são raríssimas, escassas, quase míticas as possibilidades de renovarmos o atual estado de coisas, pois as caras novas são, não raro, apenas a pele que cobre o corpo nefasto da continuidade de práticas e pensamentos que, em seu todo, são a razão do nosso descrer.


Mas ainda há uma luz no fim do túnel. E ao escrever isso admito a crença ao invés do descrer. Isso porque ainda existe ou resiste a arte, a literatura, a pesquisa, as crenças que aliam a mística do incompreensível à compreensão da experiência dramática da humanidade. Mas é forçoso reconhecer que essa luz é um fósforo em meio ao vazio das trevas. Mas já ilumina algo. E é isso e isso apenas o que temos para começar a transformação. O resto é combustível.
terça-feira, 4 de julho de 2017 0 comentários

Três Lições (Publicado na Folha dos Lagos de 2/7/17)



Recentemente pude aprender algumas lições em política, afinal, ela é dinâmica. Para conquistar a consideração do distinto leitor e a brandura da diagramação deste espaço, vou nominar apenas três.

A primeira lição é a de que qualquer transformação só pode surgir do processo revolucionário. Desconsiderando momentaneamente sobre qual lado político a promova e se virá pela mudança radical de pensamento e comportamento ou pela via da força, o que nos importa nesse breve instante é a afirmação de que os poderes constituídos são centrífugos e tendem a conservação. Observemos bem as estratégias do Planalto e de seus aliados, bem como de todos os políticos e demais envolvidos com os malfeitos contra a nação e a República, e vamos concluir que as peças estão se movendo rumo ao acerto das arestas. Se as investigações não podem retroagir, podem ser impedidas, sustadas, arquivadas, desconsideradas, negadas e, para isso, basta que se coloquem as pessoas certas nos lugares certos em defesa do errado.

Já não resta muita dúvida que as recentes modificações na Procuradoria Geral da República, bem como do comportamento da base parlamentar vá dar ao país um desfecho diferente do que imaginamos, a vitória do argumento de um país cambaleante que precisa de paz para ser reformado. O problema é que toda e qualquer reforma, no momento, é como uma demão de cal rala em paredes tomadas de mofo e podridão.

A segunda lição recente, e que deve ser aprendida rápido por quem tem apetite em política é de que não existe fila. O político que espera sua vez na fila para lutar pela possibilidade de ver seus ideais concretizados em mandato está fadado ao ocaso precoce. Toda e qualquer fila é um arranjo provisório e desconsidera a dinâmica dos fatos e, não raro, presta-se mais ao serviço da formação de dinastias do que propriamente a oxigenação, crescimento e fortificação de grupos políticos.

A primeira conhecemos bem, os processos dinásticos das famílias políticas, dos coronéis que exerceram o mandonismo nos campos e nas cidades. O resultado quase sempre não acaba bem. Ao menos para o povo, com plena certeza. Já a oxigenação faz um grupo crescer e prosperar. Para isso basta deixar que a política faça seu trabalho, pois ela mostra de fato qual candidato possui as condições para ser a nova liderança. E quanto mais se antecipa esse destino mais se mostra a fragilidade do nome posto, pois precisa desesperadamente ser inflado mais pela mão que ameaça o tapa do que a mão que afaga e conquista.

Exemplo maior disto é a crise pelas quais os partidos que tinham seus presidenciáveis consolidados – vários deles na base da “marra” – e que com os recentes escândalos já podem ser considerados cartas fora do baralho. E como os grupos e partidos gastaram precioso tempo em movimentos de conformação com seus fatos consumados, agora se remoem de modo caótico em busca de figuras que possam ser adesivadas no coração do povo. Não é fácil. O PSDB que o diga.


A terceira e última lição é a de que cada político paga o preço por quem escolhe para assessorá-lo. As delações mostram fartamente as mochilas, malas e outras tantas artimanhas que, em nome dos políticos ou a mando deles, se fazem no troca-troca criminoso do tráfico de influência. E tapear um político parece ser tão fácil quanto ele tapear o povo. Se assim não fosse, não teríamos tanta gente ruim e desqualificada sendo incensada como gurus e mentores, bem remunerados. É hora do político voltar a ser o protagonista do elenco.
terça-feira, 6 de junho de 2017 0 comentários

Sair da Crise (Publicado no jornal Folha dos Lagos, edição de 03/6)



Não é novidade para nenhum brasileiro que estejamos vivendo momentos de crise. Entretanto, tenho me perguntado a razão pela qual concentramos nossos esforços apenas no que tange os indicadores e, sobretudo, nos arranjos que possibilitam meramente o retorno de uma situação indesejada para um tempo que, se não era melhor, pelo menos oferecia certa previsibilidade.Na minha opinião isso é pouco. Muito pouco. O econômico prevalece tendo em vista o enfrentamento de atrasos salariais, rombos, desvios , fraudes e toda sorte de problemas ocasionados pela gestão temerária que contava, até os dias em que a justiça dormitava, com a quase certeza da impunidade. Os tempos são outros, mas as soluções parecem ser as mesmas. Ao invés de aproveitarmos os momentos ruins como alavancas criativas para a inserção de nossa sociedade no século XXI, voltamos às velhas práticas messiânicas, dos salvadores personalistas e de modos de se ratear o poder de maneira a que os esquemas de sempre se camuflem ou na discrição ou na pele imberbe das novas caras, filhotes diretos ou indiretos das velhas raposas.

Por isso me arrisco a dizer que não estamos numa única crise. Estamos vivenciando um conjunto de crises sobrepostas. A econômica talvez seja a mais auto evidente, mas temos outras de tamanha importância como a crise na ordem dos valores. Elementos estruturantes de qualquer sociedade, os valores que notoriamente necessitam ser redescobertos e ressignificados com urgência, como a solidariedade, a fraternidade, a ética, a honestidade e o respeito, poderiam ser o alicerce ou mesmo o estopim de uma explosão revolucionária da condição do ser humano. Mas nós só discutimos números e indicadores.

Não há como pensar uma saída definitiva para crise sem assumirmos um compromisso com a redução da pobreza e da desigualdade. A pobreza é estruturante também, pois cria mecanismos muito difíceis de serem superados pelo mero esforço pessoal.  E esse cenário piora ainda mais quando mesclado com outras condicionantes como a violência. A saída da pobreza não será unicamente pela porta do consumo facilitado, que mais endivida do que estabiliza. Ainda que o consumo seja um fator importante, o que está por trás dessa relação é a posse de algo como objeto de reconhecimento social. Em outras palavras, nós compramos algo para existir para o outro. Sob esse prisma dá para pensar na quantidade de pessoas que hoje não existem ou estão tentando se tornar visíveis.


A educação, obviamente, é uma das saídas permanentes para o conjunto das crises. Entretanto, ainda temos uma das mais arcaicas do mundo contemporâneo. Nossa incapacidade de gerar pensamento teórico e metodológico compatíveis com as demandas atuais só perde para nossa gestão, ainda aferroada a práticas que pouco diferem do matriarcalismo/patriarcalismo. Enquanto oferecermos aos planos politiqueiros a prerrogativa de nomear os condutores dessa instância, sofreremos terminantemente com o atraso, com o improviso ou, o que é pior, com o tipo de gestor que, viciado em redes sociais e mídias, anuncia uma chuva de reuniões, iniciativas, projetos e tratativas, sem que nenhuma produza efeito. É a sociedade do espetáculo onde o estar fazendo (quantitativo) é visto como sinal de produtividade, mesmo sem nenhuma efetividade. Se desejarmos deixar de ser um ponto fora da curva do progresso e do desenvolvimento, teremos que repensar de modo mais holístico o que chamamos de crise e tentar solucioná-las com algo que é valorizado em qualquer país desenvolvido, as pessoas, os valores e o conhecimento.
segunda-feira, 29 de maio de 2017 1 comentários

Desentendam o Brasil (Publicado no Jornal Folha dos Lagos - Edição de 27/05)


Definitivamente o Brasil não é para amadores. Compreender de maneira analítica a realidade foge a toda e qualquer possibilidade racional. Houve um tempo que até aqui mesmo era mais simples saber como as coisas eram concebidas e praticadas, sobretudo na política. Na Colônia a Metrópole e seus prepostos mandavam no grosso mas no local eram os “homens bons” que controlavam os poderes que se prendem ao cotidiano. No Império, nossos tons pastéis que diferenciavam de modo mais livresco que pragmático os liberais dos conservadores tinham no pé despótico do Poder Moderador a garantia de que tudo estaria absolutamente sob controle (em tese ao menos). Nasceu a República, ainda encantada com as espadas e os ventos de uma teoria estrangeira, filha cheia de sangue imperial em suas colunas, cuja depuração foi aos poucos produzindo algo peculiar, o mandonismo, o café com leite e a reafirmação do nosso lugar no mundo como fornecedores do que a terra generosamente dava, isso até o período em que Vargas criou ou recriou o trabalhador urbano e um Brasil de política oscilante, dançarina entre os salões liberais e corporativos.

Um ponto comum a todos os tempos era e é o nosso jeito de cimentar nosso edifício político. A historiografia desde o século passado já identificara nossa tendência a familiaridade, uma cordialidade que estende o chapéu do público como extensão do privado. Sendo assim, o que hoje consideramos legalmente como corrupção, na estrita observância do fundamento, é relativizado pelo crivo da particularidade. Ou seja, mesmo que a lei favoreça o mais óbvio entendimento, conseguimos dobrá-la, ignorá-la, torcê-la sob o ponto de vista da relatividade do argumento.

Trocando em miúdos, é sintomática a libertação das mulheres de Eduardo Cunha, absolvida, e de Sergio Cabral, em prisão domiciliar. É absolutamente estapafúrdio manter um presidente no cargo após robustas evidências, que vão para além do modus operandi amplamente sabido e praticado por todos que jogam nessas mesmas regras e se medem pelas mesmas réguas; e caçar uma anterior por supostas “pedaladas” ou pelo simples argumento da falta de governabilidade. O espetáculo dado pelos deputados, com direito a introduções que iam da saudação a torturadores a saudação de Deus e a família, deveria ser redobrada diante da corrupção e da imoralidade no trato da coisa pública hoje. 

Deveria ser triplicado com sonoro não para cada reforma que estilhaça a dignidade dos mais fracos. 

Mas não há tempo para nada disso. O país parece um brinquedo capenga, desorientado, girando a esmo tentando achar um eixo. Daí o paradoxo. Dos nomes que até o exato momento se apresentaram para suceder a tempestade nenhum foge dos três cenários possíveis: um circo de horrores brutal, uma escancarada plutocracia ou o arranjo corrupto.  Para piorar não se pode suceder o próprio povo. Ele é o que é. Ainda que o vitimismo tente justificar a corrupção dos pequenos como defesa contra os grandes, a verdade desnuda é que essa é nossa matriz. O resto é palanque para esquerdistas e direitistas. Se o Brasil for coerente com sua história e o povo com suas escolhas, postos os indícios recentes de nossas instituições executivas, legislativas e judiciárias, tudo leva a cotar na bolsa de apostas que a solução para todos os nossos problemas está exatamente no uso daquilo que é causa de todos eles. 
domingo, 21 de maio de 2017 0 comentários

Roubo dos Deuses (Coluna publicada na Folha dos Lagos - Edição de 20 de maio de 2017)


Prometeu e Epimeteu haviam recebido uma tarefa de grande importância dada pelos deuses: a criação de todos animais.  Todos receberam seus dons e características que dispensam maiores considerações. A uns sagacidade; a outros garras, força e assim por diante. Tudo ia bem até a hora de se constituir o homem. Esgotados os melhores recursos, a matéria com a qual compuseram o tímido animal era o frágil barro e pouco restou à derradeira obra que impusesse o domínio sobre o restante da criação. A solução de Prometeu era singular. Roubar o fogo dos deuses e, com ele, dar ao homem a maior de todas as fortunas. 

Entretanto, um roubo desta envergadura não passaria despercebido no Olimpo. O julgamento de Prometeu foi rápido e o castigo, duradouro. Preso no Cáucaso teria um corvo diariamente devorando seu fígado, que igualmente se regeneraria, numa cena que deveria perdurar por trinta mil anos.

A criação de um modelo contemporâneo de político brasileiro tem suas analogias com o mito. Feitos de matéria cada vez mais frágil, do barro ao papel, os mandatários poderiam buscar sua força e o poder de fazer naquilo que é condição essencial do processo democrático, a representatividade. Entretanto, é assustadoramente numerosa a quantidade de envolvidos no assalto ao Olimpo. Preferiram roubar o fogo sagrado e com ele tentar criar uma espécie suprema de inatingíveis, invulneráveis e indestrutíveis: semi-deuses acima de tudo e todos.

Se a justiça será tão eficiente quando o julgamento de Zeus não é certo, assim como o castigo. Nada do que foi revelado até o momento pode ser considerado surpresa no Brasil, a não ser que a pessoa nunca tenha lido um livro de história ou vivenciando uma eleição. E justamente por não ser surpresa, o que nos sobra é apenas a sensação de decepção pelo fato de Prometeu não ter sido cuidadoso o suficiente para não deixar o rastro das chamas roubadas incendiarem toda a terra. Nosso ódio é pela corrupção que não deu certo, que não manteve a estrutura que beneficia do pequeno ao grande ereta.

Talvez seja por isso que a esquerda peça o retorno de quem sempre soube lidar com os deuses de modo que eles não se sentissem propriamente roubados, mas participantes de um grande investimento que traria benefícios a todos. Talvez seja também por isso que o atual presidente venha decepcionando tanto, pois resolveu roubar o fogo doméstico para levá-lo aos céus. Roubou do homem em favor dos deuses e eles, caprichosos, não perdoaram ironicamente sua pretensão de subir ao monte sagrado.


Se Hesíodo estivesse vivo, teria uma excelente oportunidade de contar uma história intrigante: a das delações que entregam o caráter de um povo que, para eleger um corrupto, se olha no espelho como um Narciso apaixonado pelo que vê.
domingo, 14 de maio de 2017 0 comentários

Futuro do Pretérito (Coluna de Sábado publicada na Folha dos Lagos - 13/14 de maio)



Existe uma perspectiva explicativa na física que é ao mesmo tempo fascinante e assustadora: o presente não existe. Melhor dizendo, ele até pode existir, mas não para nós, pois não conseguimos conhecê-lo no exato momento em que ele se produz. Os referentes que chegam aos nossos sentidos podem ter um atraso de um bilionésimo de segundo, o que o coloca necessariamente, no passado. A luz do sol que enxergamos é uma história de oito minutos que já se foram, assim como a luz de vários outros astros, alguns possivelmente extintos. É um destino surpreendente: quando acreditamos enxergar o futuro, é para trás que olhamos.

Talvez seja a história a tradutora por excelência dessa experiência para o campo das humanidades. É por isso que ousamos defender que ela ilumina o futuro, pois ao olharmos para o agora ou adiante, é o passado que enxergamos de fato. Alguns acreditam que ela nos dá lições. Não creio, mas professo a fé nos presságios e avisos. Se a história teima em não repetir o mesmo vestido e par de sapatos, o que podemos fazer é admirar sua beleza e com ela aprender por analogia.

Essa é uma maneira intrigante de pensarmos a realidade de nosso país. Num campo onde não temos como lançar mão de uma teoria elegante, tal qual um teorema, ou mesmo exata como um ciclo astronômico, resta-nos o material volátil do produto humano, sua maneira de perceber as coisas, de resolvê-las e, mais do que isso, de dar a ela sentidos e a partir deste, viver.

O embate entre Lula e Moro é o produto mais ridículo de algo que deveria ser levado a sério. Mas longe do produto inédito da história, nos deparamos praticamente com uma fórmula conhecida, talvez de química, onde certos elementos combinados sempre terão ao final a mesma substância. É hilariante acreditar numa perseguição política ao Lula. Comédia barata a presunção de seu desconhecimento de tudo o que apura a Lava Jato, assim como de sua digital em todos os cantos. E tudo nas mãos de um juiz pop star, com capa de super herói, trejeitos de salvador da pátria que, por onde passa, cumpre agenda política, praticamente de candidato.

O resultado de tudo isso não surpreenderá a ninguém. A corrupção não choca o brasileiro, apenas o entedia. As chamadas esquerdas estão niveladas a mediocridade da direita. Ambas se tornaram credos recheados de idolatrias, cada qual com seus santos e messias. Não mais do que dois caminhos são possíveis a partir do depoimento shakespeariano: no primeiro Lula é condenado, a Lava Jato prossegue, a república é refeita a partir do banimento da quase totalidade de safados com cargos eletivos e com mecanismos legais que impeçam o eleitor sem vergonha de voltar a eleger a safadeza; no segundo Lula é reconduzido a cargo de presidente para levar o Brasil a um acordo “nunca antes visto na história desse país”. Todos salvos e tudo voltando como era antes. A corrupção se institucionaliza e poderemos ser tão bons politicamente quanto uma Venezuela. Mas o importante é que o mercado voltará a sorrir e o povo a comprar a prazo suas passagens aéreas. Todos “empoderados”, com bons cargos na máquina generosa, e uma miríade de confortáveis espaços de isolamento em suas peculiaridades...


O futuro, velho conhecido, é para nós pretérito imperfeito. 
segunda-feira, 8 de maio de 2017 0 comentários

Volta Querido (publicado na Folha dos Lagos Edição de 6/5)

Servido à temperatura ambiente, o governo Temer não passa até o momento de um antepasto do que seria o prato principal: Um novo governo capitaneado pelo PSDB. Nessa condição, transitória, os pães e pastas cumpririam um papel importante, antecipando todas as premissas necessárias e desgastantes para uma nova tentativa de tornar o país, enfim, neoliberal. Entretanto, um dos petiscos servidos durante a apresentação gastronômica, ganhou ares gourmet e parece ter vida própria, contando com uma mídia particular e holofotes personalizados: A Operação Lava Jato. Mas não estão preparando direito a iguaria. Em algum momento um aprendiz de cozinheiro entornou água na fervura do óleo e quem cozinha sabe o que acontece com essa mistura, espirra em todo mundo.

E como salvar o jantar nessas circunstâncias? Recentemente vi uma postagem em redes sociais afirmando haver um medo generalizado pelo retorno de Lula à macia e confortável cadeira presidencial. Em outros tempos, os dos ensaios revelados no mensalão, até acreditaria nesse temor. Com uma oposição em frangalhos, só a desmoralização de um governo amoral poderia surtir algum efeito. Burros n’água. Lula elege Dilma e Dilma quase enterra Lula, o PT e o brazilian way of life da política. Com a saída da “presidenta”, um cenário mais feliz se assanhou para todos. Para Lula, um alívio. Para a oposição, agora neo-situação, a oportunidade de tomar de assalto o país. Por isso, durante certo tempo, expor, culpar e punir Lula pelos seus pecadilhos (veniais ou mortais) seria o desfecho ideal da saga heróica dos que disseram SIM à queda de Dilma e que chancelavam as ações de Moro e companhia.

Não é mais assim. O desfecho da história se escreve com uma pena torta e as linhas são de uma lavra estranha. Quanto mais o fogo purificador da Lava Jato e suas co-irmãs envolve a galope políticos e empresários que seriam justamente os “Noés” após o dilúvio que levou a pique Dilma, mais se percebe um esforço descarado dos três poderes em desistir de uma brincadeira que foi longe demais.
Como não é possível, viável ou ao que parece desejável passar o Brasil a limpo, rever as práticas e estruturas políticas nos três poderes, redesenhar um Estado necessário ao povo e redefinir seriamente o papel da sociedade nesse contexto, tornou-se uma condição vital, imprescindível, necessária, a volta de Lula a presidência. Somente Lula tem o traquejo para resolver a vida de todos. 

É hora do “papai” arrumar a bagunça das crianças, sobretudo as que “mamãe” deixou. Imagine o leitor os benefícios que o país rapidamente vai auferir com Lula no Executivo, Gimar no Judiciário e figuras como Renan Calheiros no congresso? Estaremos todos a salvo.  O povo voltará a sentir-se empoderado por poder comprar, se endividar e contar com uma razoável proteção do Estado em termos de serviços. Os ricos voltarão a lucrar como nunca, sem o menor incômodo. A classe política voltará a viver dos seus esquemas, preferencialmente com a ajuda dos empresários de porte e do judiciário.


Não temos o cacoete da seriedade no Brasil. Sabemos bem o que funciona e precisamos sair da crise! Mas que ao menos alguém evite um novo Roberto Jefferson ou um Cunha. Por que se conseguirmos emplacar o barbudo de novo, é melhor que ninguém atrapalhe a cura do país.

sábado, 15 de abril de 2017 0 comentários

Acabei de Ler e Recomendo!



Calma que não é um problema de fé em plena Páscoa! (rs). O título, em verdade, não faz jus ao conteúdo do livro. Invocadores do Mal é mais uma obra para quem curte os casos desvendados pelo famoso casal Ed e Lorraine Warren. O diferencial está na narrativa que é escrita pelo casal, além de trazer informações acerca dos fenômenos e de casos não tão badalados pela mídia, como os famosos Annabelle e Amytiville. Vale a leitura.
sexta-feira, 14 de abril de 2017 0 comentários

Reflexão: A Dor da Paixão

O Beijo de Judas - Caravaggio 1602

Desde muito cedo aprendemos a desconsiderar a dor. Mais do que isso, aprendemos a combatê-la com todas as forças. As maravilhas da medicina nos afastam dela, com a promessa analgésica para os males do corpo e da mente. As maravilhas da tecnologia as relativizam, suavizam e o restante cabe às relações humanas mesmo, que é o que sobra: a banalização da dor. 

Além de tornar a dor um sinônimo de fragilidade, tiramos dela a dimensão do drama. A dor é um espasmo acidental do nossa cotidiana fixação no prazer. Pensar nela já nos coloca na lista dos problemáticos, vivê-la, nunca mais nos tira dela. Como desaprendemos a compreender a dor perdemos também a lembrança do sabor que uma paixão possui. 

É a dor como um bem.

Sim, pois uma paixão que não dói é um produto plástico, artificial, com corantes e conservantes. Para mim toda a paixão deve necessariamente doer. E isso passa longe de uma mutilação masoquista. Ao contrário, ela dói porque é o sentimento mais intenso que um ser humano pode experimentar. Entretanto, a condição dessa experimentação é o amor. Ninguém é capaz de viver a paixão, seja pelo que for, se não amar.

Esse é o bem amar. 

Hoje para os cristãos de todas as nuances é um dia de paixão. A mais intensa de todos os tempos. Pelo seu tamanho é possível compreender um pouco do amor que a moveu. A paixão do Cristo é o extravasar irrefreável de uma avalanche de sentimentos: perdão, afeição, incompreensão, medo, resignação, resiliência, amor, amor e amor... Porém, ela, para ser paixão, doeu. Doeu fisicamente, moralmente, na alma. Doeu porque essa é a essência do nosso drama. A traição dói, a indiferença também, assim como a violência, a hipocrisia e a humilhação. Mas a nervura que a transmite é a certeza de que vale a pena vivê-la por uma razão maior. 

Essa razão é o bem. 

Nesse final de semana vamos ouvir de tudo. Dos votos dos desonestos a propaganda neurótica pelo chocolate antecipado. Só não esqueçamos de ouvir a dor. Essa dor que levou à cruz a incondicionalidade do amor. Ela é feita de gente e do que há de divino em cada ser humano, a sensibilidade com o sofrimento do outro, mas também com suas alegrias; solidariedade com suas perdas, mas também com suas conquistas; fraternidade com suas necessidades, mas generosidade com sua pequenez. 

Essa dor faz bem.
domingo, 9 de abril de 2017 0 comentários

Reflexão: Os Intelectuais na Política Ocupam Prateleiras



Os intelectuais na política ocupam prateleiras. Como um bom conjunto de louças na cristaleira, é sinal de importância quando se pode exibi-los na sala e, eventualmente, deles se utilizar em algumas ocasiões pontuais.
Esse é um sintoma de algo maior. É histórico. Em primeiro lugar há uma espécie de fetiche do que se chama intelectualidade. Desde os idos mais remotos da formação de nossa pátria mãe, a cultura de produção de cérebros se dedicou com mais esmero às alegorias e adereços do que propriamente a constituição de uma linguagem lógica que possibilitasse a conversão do processo formativo com um diálogo social amplamente produtivo. Daí o anverso da moeda no qual qualquer formado (em especial o mais precariamente) se presume acima dos mortais.
Em segundo, mostra o fosso ainda a ser aterrado entre os centros de produção de saberes científicos e tecnológicos (tanto das ciências naturais quanto as humanas) e a efetiva utilização de tudo isso em prol da inovação. Atualmente somos tão pobres em termos de concepção de avanço, em especial no âmbito da gestão pública, que transformamos “informatização” em sinal de modernidade, de novidade. Uma visão no mínimo limítrofe.
O contrário também é temerário. O rei-filósofo de Platão, em sua república ideal só nos reforçaria a noção, comprovadamente equivocada, de que uma aristocracia de “sábios” é sinônimo de progresso, honestidade e desenvolvimento. 
Entretanto a realidade que temos ainda está longe desse perigo. O meio político vinga-se dos intelectuais. Essa vingança tem diferentes graus de sutileza. Da mais grave, onde se procura explorar a necessidade de sobrevivência em troca de um estado permanente de humilhação, a mais branda,  o tal “efeito cristaleira” de que falamos há pouco. As reações também são as mais diferentes. Vão desde a degeneração do pensador em “agiota de opinião”, que joga com a língua para com ela obter certa entrada e alguns benefícios, à conformidade com as penumbras.
Temos exemplos recentes. A descuidada declaração do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que a nomeação do ministro da saúde planejada para ser ofertada a um notável da área terminou na mais rasa e costumeira barganha partidária, mostra o timbre e as notas da partitura política brasileira.
Em defesa, o meio político tenta defender o indefensável, ao tentar dissociar as noções entre conhecimento e competência. É incrível ouvir em pleno século vigente que para ocupar certas posições não é necessário notório conhecimento e experiência. Basta “saber fazer”, seja lá o que isso signifique. É claro que os critérios para isso são os menos republicanos possíveis, mas isso é outra história.

Pelo menos essa visão é coerente com o modo como o Estado concebe a educação do seu povo. Ou seja, para ocupar a vaga do arranjo, o esforço certo não se faz com livros, pesquisas e estudos. 
sábado, 25 de fevereiro de 2017 0 comentários

Politicando...(Coluna do Jornal Folha dos Lagos de 25 de fevereiro de 2017)



Vem Me Amar

Com uma impecável habilidade política, Lula pavimenta seu retorno a presidência em 2018. Três são os principais pontos a seu favor. Até agora nada de condenações ou mesmo uma ligação solida com os escândalos;  Tem um retrospecto de governo invejável sobretudo nos campos econômicos e sociais; E por último, mas não menos importante, é um dos poucos capazes de compor e trazer um pouco de paz para os corredores de Brasília... Está na dianteira em todos os cenários.

Chupando Dedo

Quem tiver uma bandeira sobrando pode enviar para o Movimento Brasil Livre. Os menininhos ainda não aprenderam qual o verdadeiro papel do cordeiro na receita, sobretudo quando o prato é massa de manobra. Agora querem novas manifestações, supostamente contra a corrupção. Mas elas estão em curso, salvo engano, e sem grandes transtornos.  Então, rua para que? Para defender o povo contra os últimos pacotes de maldades? Tá bom...

Sobrevivência

A quantidade de pessoas ostensivamente alcoolizadas circulando desde o início da manhã pela cidade de Cabo Frio já dá o tom do que será o carnaval não apenas aqui, mas na região como um todo. Pelo jeito as unidades de saúde terão um bocado de trabalho. As pessoas de bem também.  Sobrevivência nesse cenário só lendo o Manual do Guerrilheiro Urbano, do saudoso Mariguella.

Suderj Informa

Substituição de goleiros na seleção do sistema carcerário. Sai Bruno, com habeas corpus, e entra Edinho, filho do Rei Pelé.

Ligou Errado

Silas Malafaia é o mais novo indiciado e investigado pela Polícia Federal. De novo, os federais, notoriamente filhos ou servos do capeta, estão conspirando contra a santidade do ínclito discípulo e arauto do Senhor. Tentamos contato com alguém do céu mas ninguém confirmou conhecer o líder religioso... Então ficamos por aqui.

Dúvida Cruel

Ouvi uma pergunta que não soube responder. Se o deputado Silas Bento tivesse os mesmos compromissos orgânicos que seu colega Jânio Mendes, teria votado contra a privatização da Cedae mesmo assim? A julgar a ênfase no discurso... é possível.

O Outro Lado

No esquenta das eleições para deputado, há quem aposte em algumas quedas de cavalo. Uma coisa será certa, nenhum candidato virá com um grupo político totalmente fechado por trás.
sábado, 11 de fevereiro de 2017 0 comentários

Espero por vocês!


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017 0 comentários

Acabei de Ler e Recomendo...



O livro discute o conceito e as características do coronelismo e da parentela nas relações de poder das cidades nordestinas a partir do estudo de caso da família Heráclio do Rego. Excelente pedida para uma melhor compreensão dos alicerces do nosso modus operandi contemporâneo e suas rupturas e permanências com o tempo do mandonismo.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017 0 comentários

Politicando... (Coluna do Jornal Folha dos Lagos de 28 de janeiro de 2017)


Mansão Penal

Se a coisa continuar como está, o presídio de Bangu 8 pode acabar nas páginas da Revista Forbes. Para lá já foi parar o milionário Cabral e alguns dos seus assessores. A caminho, o bilionário (ou ex-bilionário ou semi-bilionário...) Eike Batista. Coisa fina...

Deprimido

Cabral está deprimido com a vida da cadeia. Certamente mostra as mesmas crises de choro e depressão quando gastou nosso suado dinheirinho de modo, digamos, não muito republicano. Fica o aviso a turma que se mete em política para tirar onde de magnata.

É dando que se recebe

A prefeitura de Cabo Frio já está nos acertos iniciais dos pagamentos atrasados de diversos setores do funcionalismo. Merece nosso aplauso pelo senso de prioridade e capacidade gerencial. Mas a sensibilidade para por ali. Nas agências bancárias o servidor mal vê a cor do dinheiro, dragado impiedosamente pelos bancos. Bem que nessas horas de aperto geral se poderia ao menos considerar ir debitando os atrasados correspondentes ao mês recebido e não todos os meses atrasados de uma só vez.

Só de leve

Enquanto aqui penamos horrores pela efetividade da Lei Maria da Penha, na Rússia a Duma acaba de aprovar um projeto que despenaliza a violência doméstica. Pela regra só pode bater uma vez e não causar danos a saúde da vítima. É o mundo caminhando como curupira.

O muro é nosso

E por falar nisso, a conta do Muro da Vergonha, promessa de campanha de Trump dividindo o México e os Estados Unidos pode ser paga por toda a América Central e Sul. Aumentando a alíquota dos importados, o financiamento estaria garantido. E não esquecendo de contratar a mão de obra mexicana, é claro, tradicionalmente mais barata no mercado americano. Um aperitivo do que virá por aí...

Febre Amarela

Quando os governos dizem que está tudo sob controle e depois já pensam em vacinar todas as crianças do país é sinal de que ninguém está no controle de nada. Claro que nas regiões litorâneas do Brasil prevalece a regra de esperar o Aedes se dignar a espalhar a doença para se pensar no que fazer. Ou não fazer.

Cinzas


Com a crise o carnaval da Região dos Lagos virou uma obra de jardinagem. Poda daqui, corta dali e assim vai se ajustando a festa à realidade. Boa chance para se pensar qual festa é a cara das cidades.
domingo, 22 de janeiro de 2017 0 comentários

Acabei de Ler e Recomendo!


O historiador Jacques Duquesne nos traz uma narrativa muito interessante sobre o "Jesus Histórico", mostrando as diferentes fontes e interpretações acerca de sua trajetória e contexto de vida. O livro traz riqueza de fontes e detalhes, e gostei bastante do estilo literário, o que nos dá a sensação de estar no local dos eventos. Vale a pena a leitura para todos os interessados no assunto.
sábado, 21 de janeiro de 2017 0 comentários

Politicando...(Coluna no Jornal Folha dos Lagos de 21/1/17)


Uber de novo...

O debate promovido pela Folha dos Lagos na última quinta feira rendeu. E não poderia ser diferente. De um lado os usuários que desejam praticidade, preço e atendimento e que reclamam demais do serviço prestado por alguns taxistas o que, infelizmente, respinga na categoria como um todo. De outro, os taxistas que elevam o tom quando o assunto é legalidade, pagamento de impostos e outras obrigações a que se submetem. Se proibir é complicado na realidade em que vivemos, talvez uma regulamentação seja o melhor caminho. Quem sabe assim o motorista de Uber além de se submeter aos mesmos critérios de um taxista também possa fazer jus aos descontos na compra de veículos, IPVA, etc... Mas cá entre nós, já imaginou se andar de Uber ficar mais barato que a passagem de ônibus?

Teorias sobre Teori

A morte do ministro Teori Zavascki despertou uma enxurrada de suspeitas e teorias. Não é para menos. Afinal na história política do Brasil e da América Latina em Geral, não faltam exemplos de “acidentes” de percurso que tiraram a vida de políticos importantes, juízes influentes e até mesmo presidentes da república. Quem vai mais uma vez para as cordas é o governo Temer e seus novos aliados. Afinal, as delações que vem (ou viriam...) por aí não são nada confortáveis. O melhor é substituir de modo rápido e convincente. Já há quem peça a subida do Juiz Moro à vaga... Meio difícil...

Mariscada

Enquanto muitos desejam ver o ex-presidente Lula atrás das grades, outros o querem de volta ao Palácio do Planalto. Ele também quer! Aliás, quer tanto, que já se cogita que assuma a presidência do PT até o meio deste ano. Há nessa história dois lados da moeda para Lula. De um lado a polícia federal e o encalço da Lava-Jato. Essa é a parte ruim. A boa é que a oposição não conseguiu um nome que emplaque. Marina, Ciro e Aécio, por hora, não passam de rojão de festa junina...

Enquanto isso...

Bolsonaro vai comendo o mingau pelas beiradas.

Na Matriz

Nossa chefia mundial, sua excelência, o presidente Donald Trump, assumiu nessa sexta o trono do pajé. Já adiantou que representa a mudança tão desejada por todos e que daqui por diante não estamos mais esquecidos. Tudo bem então.

Saudades

Para quem anda com saudades dos royalties uma lembrança... no dia 21 de janeiro de 1939 foi descoberta o que se considera a primeira jazida de petróleo em Lobato, na Bahia. De lá para cá muito óleo passou por debaixo da ponte e muita ponte passou com dinheiro do óleo...

sábado, 14 de janeiro de 2017 0 comentários

Politicando... (Coluna do Jornal Folha dos Lagos de 14/1/17)



Dedo de Prosa

Os acordos vem sendo pontualmente construídos e nasceram as primeiras propostas, fruto das possibilidades pertinentes a cada segmento. Assim, o governo vai conseguindo dar os primeiros passos na travessia do Rubicão. A grande diferença é o diálogo e o verdadeiro interesse na negociação, algo que não se via há algum tempo. Já diziam os antigos que o combinado não sai caro para ninguém...

Cidade Viva

Por falar em diálogo é bom ver o projeto Cidade Viva da Folha dos Lagos retomando o espaço da discussão baseada em idéias e ações. Melhor ainda quando o governo se faz representar de modo aberto, como tem ocorrido. Assim, há espaço para tudo, para esclarecer, sugerir e cobrar, como deve ser feito em qualquer democracia madura. Em pauta, o planejamento da cidade para a alta temporada.

Universal

A despeito das críticas e divergências de opiniões e práticas, a Igreja Universal e sua liderança souberam ler bem os sinais dos tempos. Investiram numa emissora de televisão aberta com programação diversificada e, fazendo jus ao nome, começou progressivamente a abrir-se a diversidade de todos os tipos, pré-condição necessária para o salto maior, o político, consolidado com a recente conquista da prefeitura do Rio de Janeiro. Uma facada na concorrência...

Olha a faca!

E por falar em facadas, não podemos nunca subestimar a capacidade do ser humano, especialmente quando o desespero leva a jogadas inesperadas do destino. No Darwin Award, um bizarro site que promove e homenageia os mais estúpidos atentados contra a própria vida, temos a história de um jovem de 19 anos que, para incriminar um vizinho do qual suspeitava estar roubando suas bebidas, resolve simular para a polícia um esfaqueamento. No segundo golpe aplicado em si mesmo já estava brindando em outra dimensão... Mas isso é lá no estrangeiro. No Brasil esse negócio de facada é levado mais a sério. Como diria Valesca Popozuda: Pra ter sucesso amor, tem que fazer direito.

Imposto

Volta a lume a proposta no senado de isenção do imposto de renda para os professores. Acho ótimo não apenas por ser professor. O problema é de conotação científica e filosófica. O que o trabalhador insiste em chamar de salário, os auditores da Receita chamam de renda. Aí já viu né...

Corre Moro!


Lula discursou em Salvador defendendo a antecipação das eleições e colocando-se como candidatíssimo. Como se diz no bom baianês, “jogou barro na parede”. Vai que cola? 
 
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